terça-feira, 25 de fevereiro de 2020


Só para dizer BOM DIA!

Muitos, dos que por aqui passam, sabem que difundi esta mensagem, há pouco tempo, por email, para os amigos mais próximos.

As respostas foram tantas, e o incentivo a que publicasse no meu Blog, que aqui vai.
Mas não podia deixar tudo na mesma. Leva mais alguns afagos…


Às vezes vou no carro e, sobretudo em locais onde não sou conhecido, cumprimento uma ou outra pessoa por quem passo, acenando, por pura brincadeira, como se as conhecesse de há muito.
A Minha Filha costumava censurar-me, dizendo:
 - Não se faz isso pai...

ao que eu sempre respondi:
 - Talvez ninguém volte a cumprimentar esta pessoa hoje. Pensa que, se eu o não tivesse feito, talvez ninguém lhe desse qualquer importância, durante o dia inteiro.

(Dedaleira - Digitális Purpurea) - Foto de Bigorna
Também me acontece, amiúde, cruzar-me com ciganos, na estrada, que me cumprimentam efusivamente... Nunca percebi o motivo, mas retribuo.
Até porque todos eles serão, sem qualquer margem para dúvida, muito melhores do que eu.

Uma das últimas vezes em que isso aconteceu, a minha Filha, soltou uma gargalhada e disse:
- Talvez, se não fossem eles, ninguém te dissesse nada o dia todo!

É verdade, tremendamente verdade... Às vezes não dizemos mesmo nada a ninguém.... Passamos uns pelos outros como desconhecidos, como se pertencermos à mesma espécie fosse uma mera fatalidade.

Tenham um Bom Dia... Desejo, profundamente, que tenham um BOM DIA!


E já agora, aproveitando a oportunidade, faço um apelo:

Ensinem, por aí, que responder a um Bom Dia com Clichés do tipo:
- Só se for para ti!
Ou
- Se não chover!
É de grande boçalidade, responder daquela forma, a quem está a desejar, a outrem, que o seu Dia seja Bom.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020


20 de Fevereiro – Deusa Tácita

Hoje é dia da Deusa Romana do Silêncio – Tácita, Lara, Lalá (em grego, Falante).
Segundo a mitologia, Júpiter, terá castigado a Deusa Tácita (por ela ser muito tagarela), por não saber guardar segredo e ter revelado algumas traições deste à Deusa Juno, sua esposa.
Gosto de imaginar Deuses e Deusas, com Virtudes e deliciosos defeitos.
Os deuses imaginados perfeitos e com solução para tudo, até para a morte, parecem muito convenientes. Mas não é a mesma coisa…
A violência do castigo sobre a língua de Tácita, nada é comparável a uma condenação à “fogueira eterna”, para gáudio de quem, no “céu”, se delicia, eternamente, a ver as “alminhas a arder”.
Depois de arrancar a língua de Tácita, Júpiter mandou, ainda, Mercúrio para a matar. Mas este apaixonou-se por ela e dessa união nasceram os Lares, presença frequente nos espaços reservados aos Deuses, na “Domus Ronanae”, espaços também conhecidos como “lararium”, que originaram as palavras Lar e Lareira.
Depois de parir os Lares, a Deusa passou a ser a Deusa do Silêncio. E todos devíamos experimentar como o silêncio fala…. Diria mesmo que difícil é fazê-lo calar!!!
Experimente o Silêncio. Tenha cuidado com as palavras, com os outros.

 
A Física das forças não físicas 

Mesmo na consciência de si, 
Não sei se saberia Damásio, 
Em suaciência imensa, 
Que tem a palavra que vai, 
Uma força tão intensa… 
Um poder tão perdulário. 

E do desejo? 
Do forte, imensa e doce esperança do ensejo, 
 
Que dizer do teu amor… 
Da força do pensamento? 
Bigorna 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020


Ir a toa não é andar à toa…

As palavras são uma invenção deliciosamente mefistofélica…
Parece a mesma coisa. Pois, as semelhanças são muito ilusórias. O Diabo está nos pormenores!
A primeira forma é um termo náutico e refere-se ao cabo que serve para rebocar uma embarcação. Cabo e não corda. Dizem os marujos que nos barcos só existem 3 cordas: a corda do relógio, a corda do sino e acorda que está na tua vez…
Já a expressão, à toa, sugere andar sem destino, sem rota, sem orientação.
Talvez possamos “baralhar o ocaso com o nascente” e encontrar, aqui, uma confluência de ideias.
Durante as nossas épicas viagens marítimas (do tempo em que andámos dilatando a fé e o império, inventando mulatas, escravizando homens de todas as cores e aprimorando as nossas faculdades racistas), fomos tomando contacto com uma doença (hoje rara), o escorbuto. Doença que se manifestava com a deterioração das gengivas, conferindo às pessoas um aspecto repugnante.
Quando algum marujo desenvolvia esta doença, a bordo, o comandante do navio tratava de isolar esse mesmo marujo, com receio de este contagiar toda a guarnição.
O marujinho era, então, colocado numa barcaça, fora do navio, rebocada – pelo cabo “a toa”.
Este marujinho não ia à toa, ia pelo rumo e sobe o mando do navio que o rebocava. Abandonado à sorte das intempéries, esperava-o a morte, sem alimento… sem cuidados.
Quis o destino que o fado de alguns não fosse a morte (ali), porque a ela não consta que alguém escape, é uma mera questão de relógio.
Hodiernamente sabemos, algumas “coisitas”, mais do que à época. Por vezes não faz qualquer diferença, o que distingue não é o conhecimento, é, se o usamos e como o usamos. Agora sabemos que o escorbuto ocorre por carência de vitamina C “ácido ascórbico”. A alimentação, a bordo, pobre em alimentos frescos, verduras e fruta, concorria para esta situação.
Alguns marujos fintavam o destino, "sem saber ler nem escrever", comendo o único alimento disponível a bordo da barcaça a toa. Comiam as algas que se agarravam ao casco do navio. Algas verdes vitamina C. Vitamina C cura para o mal. Iam a toa mas não à toa!!

O desnorte que orienta

Por vezes o sol não nasce no Nascente.
Como se por nascer do avesso se sentisse mais contente.
Os olhos do mundo ficam estrábicos,
vesgos, tortos, torpes, assaz trágicos.

Desorienta-se-nos o Oriente e baralha-se-nos o Ocaso com o Nascente.
De Austral passa a soprar o vento Norte.
De tanta confusão se funde o azar à sorte.
O Sul perde a razão e desnorteia, cru e ardente.

Se também em ti a morte e a vida se confundem,
dá a volta à tua rosa-dos-ventos.
Pinta um arco-íris nos teus olhos
e parte à conquista de outros tempos.

Já não importa se o Sul à sorte perde o Norte,
ou mesmo se o Pôr-do-sol a Lua tenta e desorienta.
Busca a chama, repele a morte,
clama a Luz que cada noite, o dia, reinventa.
                                                                                                         Bigorna


sábado, 15 de fevereiro de 2020


Os donos da vida alheia.

É fastidioso perceber que a vontade de ser dono é transversal a toda a história e a todos os momentos da humanidade.
Ser dono de pessoas e ter direito sobre a suas vidas, sobre a sua força de trabalho, entranhou-se na pele de tanta gente que parece adesivo. E todos sabemos como é o adesivo (irritante). Só existem dois tipos: o que não cola e o que não descola.
No calor morno e desenxabido, da discussão em torno da despenalização da morte medicamente assistida, fiquei a perceber que não faltam pretendentes a donos da minha vida…. Postulantes a donos da vida alheia – No final de contas, cobiçosos de escravos. Que pútrida sina a deste mundo de merda!
- Eu só queria que me deixassem acabar com a minha vida, quando achar que estou cansado, gasto, em sofrimento…
Mas respondem-me:
- não! Que a minha religião não te o permite!
- não porque eu não estou de acordo!
- não porque eu como médico não quero fazê-lo, e os outros também não porque eu penso que não.
- não porque os outros também podem querer… podem sentir-se no dever de te seguir…
- não porque a vida é inviolável!
E eu calo e, no fundo escuro da minha treva de angústia, num sussurro sereno envolto em fel, apetece-me mandar-vos meter a vossa religião no… mais fundo da VOSSA VIDA. Apetece-me recomendar-vos que as vossas ideias não podem ser chicotadas na minha vontade.
Que o vosso mester não pode impedir o mester dos outros.
Que, se os outros também quiserem, isso não significa que possam colonizar o cérebro deles e as suas vontades.
E que sim, a minha vida é inviolável e a tua também.Não Violes a minha obrigando-me a viver. Obrigadinho!
Eu não sei se vou querer, algum dia, pedir ajuda para morrer serenamente, no momento em que estiver cansado. Não sei.
Também não sei se tu vais querer fazer isso.
Sei que, se qualquer um de nós, amanhã, pela névoa fresca, calma e matinal do nosso entardecer, quiser saltar sem para-quedas, nem tu, nem eu, nem qualquer outro arvorado em dono das nossas vidas, vai conseguir impedir essa decisão… Mas se, acaso a fatalidade me tolher as pernas e os braços, pensarás que deva também ficar privado da liberdade de saltar do avião, estarás a olhar apenas para ti, na tua imensa perfeição.
Pena… Eu só queria que permitisses que eu peça ajuda a alguém e autorizasses esse alguém a ajudar-me.
Mas não, tu opões-te… Queres ser dono da Vida alheia?

Foto de Bigorna (após incêndio Outubro/2017, Oliveira do Hospital)
Pois eu digo-te:


Quando Eu Morrer…

Quando eu morrer quero estar bem vivo,
quero ver passar a vida.
Quero que ela me diga bem alto
que parte sem ter pena
que se ausenta sem medo.

Quando eu morrer quero estar bem atento.
Quero ter tempo,
quero ter tento,
ouvir, na voz do vento, o doce rumor do firmamento.

Quando partir quero saber que parto,
degustar sábia e demoradamente o acto,
de olhos abertos,
para olhar o céu inteiro,
a terra, o mar e tudo quanto é verdadeiro.

Talvez só morra uma vez…
E tão sublime e especial momento
merece que eu esteja atento.

Não quero partir sem saber.
Quero dar a mim próprio alento,
fazer-me a despedida…
Pior do que deixar a vida
seria fazê-lo sem querer…
                       Bigorna

  Pimenta no cu dos outros… (Série)   Inspirado num poste sobre espera. A vida, se a observarmos, de todos os lados, e a conseguirmos ...