NHEC… NHEC… NHEC…
O Joaquim, da minha terra. E sim, para os mais intrigados, é sempre o mesmo. Há meia dúzia de três quinze dias, veio carpir-me as suas desditas, mas num misto de riso e choro.
Contou-me ele, ensimesmado, taciturno e meio incrédulo:
- Tive uns meses de grande tribulação, mais que a tributação, cujo proveito me aflige mais que o volume, a tribulação andou a coser-me, em lume brando. Andei inquietado com um problema quase sexual.
- Não! É tudo… demorado, mas é tudo… O problema é que, moro num apartamento, pequeno, lá no prédio até lhe chamam um “apertamento”. Nos últimos meses, a cama, deu de fazer aquele nhec… nhec… nhec… que tanto irrita quem quer dormir e não têm com quem tocar e acompanhar a orquestra. Eu nunca tive desses problemas. Há uns anos mandei fazer uma cama em betão armado, por causa de um ruido semelhante, e até acabei por constatar que o nhec… nhec… nhec, afinal, nem era da minha cama, era dos meus vizinhos. Mas nessa altura também fiquei tranquilo, cama de betão não faz nhec… nhec, nunca mais. Vai se a ver e zás! Isto é, zás não, nhec… nhec… nhec… outra vez.
Eu até as tábuas do soalho mudei. Eu já fazia sexo, sem vontade, só para testar se o nhec… nhec… ainda lá morava. Mudei o colchão. Mudei o penico que estava sob a cama (que afinal estava mudo), o espelho do tecto, o interruptor da luz… Tudo! Mas nada… Tudo na mesma.
- E então? - Perguntei preocupado.
- Então, vai daí, com este stress, com o avio fulgido, e com a idade, a Minha Maria deu de si…
- Estragaste o acordeão?
- Não. Começou a acusar cansaço, dores de cabeça (mais frequentes) … levei-a ao médico das doenças. Entrei, explicámos tudo, e tudo e tudo, falei do nhec… nhec… nhec. Até tive sorte, que o senhor doutor nem me levou nada pela consulta. Quando eu lhe falei daquela coisa da cama em betão (parou a consulta), ligou para o marceneiro, desencomendou a cama nova e agradeceu-me, mil vezes, a ideia.
Depois fez-me mais umas perguntas à minha Maria. Ela até disse ao senhor doutor que andava cansada, mas que cada vez gostava mais de sexo. “Ai, senhor doutor, eu antes até tinha poucas vontades, mas agora, depois que isto começou, veja lá, de cada vez que fazemos, o nhec… nhec… nhec, dá-me uma emoção tão grande no peito, que até fico entontecida”.
Vai daí, o senhor doutor mandou-lhe fazer uns “inzames”, umas análises, umas chapas…
- Então e já está melhor?
- Ainda não. Mas já descobrimos qual é a origem do nhec… nhec… nhec.
- E então, Jaquim?
- É a minha Maria… Tem uma costela fraturada!
- Ai! obrigadinho Jaquim… Vou agora mesmo à drogaria… Vou comprar Óleo para pôr nos joelhos.
Bigorna (XX6023X)
(Quadro da minha autoria, intitulado – “Óleo sobre as artroses”)
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