Sem tempo para nada… Mas há horas para tudo…
“Deram-me duas atrás da mata!”
O tempo, onde jogamos o xadrez complexo da nossa temporalidade, feito de horas inventadas numa máquina que tenta acertar-se com os ritmos do universo, está pleno de sarilhos.
E isto para não falar do outro tempo, o das chuvas, humidades, secas, trovoadas, neves e ventosidades, exteriores e interiores, celestes, terrestres e merestres.
Embora haja os mais utópicos, que sob o stress ou sob a falta dele, se deleitam, como rios na meandrização serena das planícies, dizem que há tempo para tudo, é, por vezes, mentira. Por vezes até falta o tempo para a verdade
Não há tempo para tudo. Haverá um tempo para cada coisa e há horas do “coiso”. Sim horas do coiso mais coiso capaz das coisas mais coisas que a coisa imaginar.
Há a hora “pequenina”, para parir com perfeição e há o minuto interminável que o ponteiro, lento e preguiçoso, teimoso na languidão, leva a percorrer a última volta da hora de “despegar” … Filho de uma enorme meretriz!
E há a nossa hora, a hora de cada um, aquela hora em que ninguém vai na vez de outrem, que o barqueiro é sagaz.
Na minha aldeia havia a hora nova e a hora velha, o meio dia novo e o meio dia velho, para distinguir as mudanças de hora de Verão e de Inverno. Horas para todos os gostos e desgostos. Não faltando as horas do inferno. Horas do diabo!!! Há as 6 e um quarto e a “Ora porra para esta merda que eu já estou farto”.
Mas a melhor hora é uma e um Quarto. Duas e um quarto é mais um problema de garganta do que de tempo e, se a língua nos não valer, bem podemos pintar a manta. Às vezes nem com meia me aguento…
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Uma menos um quarto é coisa que se resolve, com alternativas várias… Muita vinha se vai lavrando em horas extraordinárias.
Hoje, pela manhã, fiquei inspirado por uma anedota, do Jaquim. O pobre lamentava ter ido parar à PIDE por ter respondido a duas velhinhas que lhe perguntaram se tinha horas:
- Tenho sim senhor! Tenho um quarto para as duas.
São aquelas horas do coiso.
Lá nos verbos dos Arguinas, a forma correcta de perguntar é:
- Quantas quiloas foca o bandarra de toi? (Quantas horas marca o teu relógio?)
Ao que se pode responder:
- É meio luzeiro. Vamos a rostir os tranbuzios. (É meio dia. Vamos comer os feijões.)
Há as horas nas quais, na minha terra, se dizia que tudo dormia. Minha avó sempre lembrava:
- Se fores buer auga, durante a note, faz barulho, acorda-a. Tudo dorme, inté as pedras do caminho. Se bueres a auga e a não acordares, ela fincasse-te no bucho e rabeias toda a note, com a auga no cartucho.
E, nunca me esquecerá. Na minha terra. Vinha a Gertrudes, lá das terras, cansada da labuta, desta vida que é filha da p… e cruzou, ela, com o Jaquim:
- Ó Truda, tens horas que “mas” dês? – Perguntou o Jaquim.
- Ê cá nunca tive reloijo. Ando sempre atenta ao sino da torre da ingreija. Mas se bem senti, deram-me agora duas, ali, atrás da mata…
São horas de me calar, que o assunto pede respeito.
Bigorna (XXVII6023X)
(Faço horas a fazer desenhos)
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