In Memoriam, à memória de quem precisa de Memória.
Uma das chaves das decisões, acertadíssimas, sempre (a história e a memória não deixam de o comprovar), da religião católica, é a inspiração do espírito santo. Não estou a falar do banco dos dinheiros. Embora esteja, também a falar de dinheiros e de memórias, também poderia ser esse, mas não é.
Vejamos, a biblioteca a que chamamos Bíblia, é inspiração do espirito santo. A escolha dos evangelhos, entre dezenas de relatos, é do espírito santo. A escolha do papa, é do espirito santo, a inquisição foi escolha do espirito santo. O não aos preservativos é inspiração do…
Conta-se uma anedota recorrente, a propósito desta sempre inspiradora presença. Estando a decorrer um Sínodo, no Vaticano, terá começado um borborinho, lá nos céus. Os doces e pacatos habitantes do céu, começaram a ler notícias e começaram a perguntar, uns aos outros, o que é lá isso do “sínodo”? E foram perguntando, e perguntando, e perguntando. Mas, dramaticamente, ninguém sabia que invenção era aquela, sobre a qual não havia conhecimento nos céus inteiros. Alguém decidiu, num rasgo de sabedoria, ir perguntar ao espirito santo, sabedor de todas as coisas, criador de todas as coisas, inspirador de todas as coisas:
- Olha lá, tu, que tudo sabes, diz-nos, pois. Que coisa é esta do sínodo, lá no Vaticano?
Foi aí que o espirito santo, com ar de espanto, dando forte palmada na testa, desatou em pranto sobre essa festa:
- Ai que me esqueci dessa porra dessa reunião!!!
Eu compreendo-o.
O Jaquim, da minha terra, também me relatou um episódio de falta de memória. Dizia ele que, às vezes, com a braguilha aberta, não sabe se está a acabar de fazer xixi ou se vai começar.
- Já me aconteceu de fazer nas calças e já me aconteceu de ficar ali, com não sei o quê nas mãos, com um problema que já foi grande. Até já me sucedeu de, na hesitação, tira para dentro, arruma para fora, fechar a gaveta e deixar a chave entalada no fecho… pois… O que vale é que as dores também me esquecem.
- Que desgraça… (ia eu comentar, mas atalhou o Jaquim).
- Nunca nada está tão mal que não possa piorar. Há dias, ia para casa e esqueci-me de onde moro. Valeu-me de me lembrar de telefonar à Maria, por via de lhe procurar. Mas tinha-me esquecido do telemóvel, em casa. Quando meti a mão ao bolso, saíram
uns trinta papeis, com coisas escritas, para me lembrar de me lembrar de não me esquecer. Papéis com coisas escritas com letras de que eu já não me lembro. No meio dos tais papeis estava um papel com um algarismo. Lembrei-me que o tinha escrito para não me esquecer do numero da porta. Olhei para o algarismo, e lá fui. Ainda bem que a porta estava só encostada. É que eu tinha-me esquecido da chave.
uns trinta papeis, com coisas escritas, para me lembrar de me lembrar de não me esquecer. Papéis com coisas escritas com letras de que eu já não me lembro. No meio dos tais papeis estava um papel com um algarismo. Lembrei-me que o tinha escrito para não me esquecer do numero da porta. Olhei para o algarismo, e lá fui. Ainda bem que a porta estava só encostada. É que eu tinha-me esquecido da chave.
Mal entrei já estava na dúvida se estava a entrar ou a sair de casa. Na dúvida entrei. Sentei-me na cama e, com uma bota calçada e outra descalça, não sabia se estava a deitar-me na cama se a levantar-me e a vestir-me para sair… Uma tragédia!
Mas o pior foi quando ouvi gritar. Uma senhora entrou no quarto, não era a Maria, a gritar – Ai Manel, que está um homem cá em casa!
Eu perguntei, perdido, então eu não estou em minha casa?
- Não Jaquim. Estás na minha casa – disse o Manel – A tua casa é o número 9, estás no número 6.
Já não sei por que razão vos estou a contar esta história. Ma fica a fotografia, do papel, que eu trazia no bolso.
Bigorna (XXII6023X)
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