domingo, 15 de outubro de 2023

 Não entendo…

Num velório, entre lágrimas carpidas, soluços, pingos de mijo, risos e outros gritos, fingidos ou não, a viúva lamentava o suicídio do seu marido:
- Atirou-se da ponte que andava a construir. Retirou a sandes da pausa da manh

ã, olhou lúgubre e abandonado de si, para a dita e disse “- tal como prometi ontem, se a minha mulher me fizesse, outra vez, sandes de queijo, vou suicidar-me!”. E dito isto, sem dar qualquer oportunidade… atirou-se ao vazio da morte que separava a ponte do rio… Ai que saudade …. Se me tivesse dito antes, eu lhe faria, até, sandes de caviar… mas nunca ousou dizer-me.
Não era, ainda, decursa mais que uma semana, e já novo fúnebre processo se repetia. Desta vez um colega do anterior suicida… Também ele acabando sua vida, ponte abaixo, porque sua amada esposa lhe fazia, sempre, repetida, irrevogável e sempre, sempre, sandes de fiambre.
Desgostosa a viúva, negrejada em seus trajes de profundo pesar, chorava:
- Suicidar-se porque eu lhe fazia sempre sandes de fiambre… e eu que pensava que era o que ele mais gostava… nunca me disse o contrário… agora, espero que no céu, as anjas lhe façam as sandes que gostaria…
A saga continua… e, não havendo duas sem três, chora e debulha lágrimas em rosários de contas sem fim, a viúva incrédula de outro suicida…
- Não entendo! – dizia e repetia rasgando indignações e outros impropérios. – Não entendo e nunca vou perdoar-te! Posso entender que os teus colegas se tenham suicidado por um motivo, embora fútil, de importância para eles… Mas tu… Tu!... Tu… meu monte de estupidez e teimosia sem forma letra ou número… meu energúmeno de vontades próprias…
- Tu, suicidares-te por causa das sandes de manteiga… quando eras tu, tu e só tu, quem fazias as tuas próprias sandes!!!??? És burro ou gostas de morrer mais que uma vez?
Moral da história: - Quando se suicidar, não coma primeiro… é um desperdício…
Bigorna (VI6023X)
(história que me contaram, para ver se me faziam entender algo…)
(desenho o que sei)

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