sábado, 20 de junho de 2020


Fake News?

Hoje acordei com a falsidade como almofada e com o berço como fornicação. Senti-me traído, como se sempre o tivesse sido, como se nunca o tivesse sabido, como se fosse o último a saber.
As notícias deixam-me estuprado pela subtileza da falta de verdades.
Ontem morreu o primeiro médico, em Portugal, 68 anos (notícia triste), vítima de Covid-19.
Ontem, li parangonas, sobre o discurso do nosso Primeiro Ministro, a propósito da realização de finais de competições europeias, em Portugal, associadas a uma frase bombástica “São uma prenda para os profissionais de saúde”. Pela minha parte, pensei, vai-me ficar caro, ainda devo a conta das palmas que a populaça me bateu, sem eu ter pedido, e já estão a presentear-me novamente... Afinal o discurso estava descontextualizado. Que estranho!
Hoje acordei com a notícia de que o Twitter assinalou, pela primeira vez, uma notícia de trump, como “manipulação dos media”. Fiquei chocado. Nem estava à espera de que o sr. Trump manipulasse os media, nem de que o twitter assinalasse, assim, tamanha barbaridade.
Fui ver os números sobre Covid-19, pesquisa sapo, em Portugal, e verifiquei que há 38.464 pessoas infectadas e 1.527 mortos.
Disto resulta que 4% das infecções,na população, em geral, resultou em morte.
Verifiquei que há 3.681 profissionais de saúde infectados, dos quais 516 são médicos, 1.527 são enfermeiros (três vezes mais e em contraciclo com os restantes países do mundo, onde a lógica é de mais médicos infectados do que enfermeiros), ainda assim, e nas notícias, citados em segundo lugar, todos sabemos que no dicionário a letra “m” surge antes da letra “e” (nalgumas palavras), e mais 1.681 outros profissionais.
De outras mortes, de outros profissionais, nem pálida nota. Ainda bem que não morreu mais ninguém. No cemitério teria de haver placas a dizer “aqui jaz outro profissional”.
Mas voltando à notícia, da morte de um médico,esta poderia ser bombástica. Morreu um médico, de entre os 516 infectados. Também estou triste. A morte, sobretudo contrariada, essencialmente contrariado, chateia-me muito.
Acontece, porem,  que deve faltar aqui qualquer outro foco de atenção ou talvez alguns dados (não me passa pela ideia de que com qualquer intenção). Se a morte atingiu 4% dos infectados (na população, em geral) e apenas morreu 1 médico em 516, são 0,2% (na população de médicos). Morrem 20 vezes menos médicos (infectados), por Covid-19, do que cidadãos em geral. Gente rija, sem dúvida. Mas, se considerarmos que a notícia é correcta, ainda pode ser mais surpreendente. No total, se estão 3.681 profissionais infectados e faleceu 1, morreram 0,03% dos profissionais infectados. Os médicos deixam de ser gente tão rija, incomensuravelmente importantes, não reste dúvida, mas muito mais vulnerável do que a restante ralé.
Não me batam palmas, por favor, que ainda não paguei as anteriores.

Fuck News… era assim que eu pediria para renomear a coisa.

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