Fake News?
Hoje acordei com
a falsidade como almofada e com o berço como fornicação. Senti-me traído, como
se sempre o tivesse sido, como se nunca o tivesse sabido, como se fosse o
último a saber.
As notícias
deixam-me estuprado pela subtileza da falta de verdades.
Ontem, li
parangonas, sobre o discurso do nosso Primeiro Ministro, a propósito da
realização de finais de competições europeias, em Portugal, associadas a uma
frase bombástica “São uma prenda para os profissionais de saúde”. Pela minha
parte, pensei, vai-me ficar caro, ainda devo a conta das palmas que a populaça
me bateu, sem eu ter pedido, e já estão a presentear-me novamente... Afinal o
discurso estava descontextualizado. Que estranho!
Hoje acordei com
a notícia de que o Twitter assinalou, pela primeira vez, uma notícia de trump,
como “manipulação dos media”. Fiquei chocado. Nem estava à espera de que o sr.
Trump manipulasse os media, nem de que o twitter assinalasse, assim, tamanha
barbaridade.
Fui ver os
números sobre Covid-19, pesquisa sapo, em Portugal, e verifiquei que há 38.464
pessoas infectadas e 1.527 mortos.
Disto resulta
que 4% das infecções,na população, em geral, resultou em morte.
Verifiquei que há
3.681 profissionais de saúde infectados, dos quais 516 são médicos, 1.527 são enfermeiros
(três vezes mais e em contraciclo com os restantes países do mundo, onde a
lógica é de mais médicos infectados do que enfermeiros), ainda assim, e nas
notícias, citados em segundo lugar, todos sabemos que no dicionário a letra “m”
surge antes da letra “e” (nalgumas palavras), e mais 1.681 outros
profissionais.
De outras
mortes, de outros profissionais, nem pálida nota. Ainda bem que não morreu mais
ninguém. No cemitério teria de haver placas a dizer “aqui jaz outro profissional”.
Mas voltando à notícia, da morte de um médico,esta poderia ser bombástica. Morreu um médico, de entre os 516 infectados. Também
estou triste. A morte, sobretudo contrariada, essencialmente contrariado,
chateia-me muito.
Acontece, porem, que
deve faltar aqui qualquer outro foco de atenção ou talvez alguns dados (não me
passa pela ideia de que com qualquer intenção). Se a morte atingiu 4% dos
infectados (na população, em geral) e apenas morreu 1 médico em 516, são 0,2%
(na população de médicos). Morrem 20 vezes menos médicos (infectados), por Covid-19, do que
cidadãos em geral. Gente rija, sem dúvida. Mas, se considerarmos que a notícia
é correcta, ainda pode ser mais surpreendente. No total, se estão 3.681
profissionais infectados e faleceu 1, morreram 0,03% dos profissionais
infectados. Os médicos deixam de ser gente tão rija, incomensuravelmente
importantes, não reste dúvida, mas muito mais vulnerável do que a restante
ralé.
Não me batam palmas, por favor, que ainda não paguei as anteriores.
Não me batam palmas, por favor, que ainda não paguei as anteriores.
Fuck News…
era assim que eu pediria para renomear a coisa.
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