Cada Vez Pior
Era uma vez…
Tenho o
privilégio de conviver com um uma gente sã, bem-disposta e de mente saudável,
apesar das muitas vezes abusadas horas pelo gás do espumante, pelo sarro da
baga e pelo colesterol do leitão da deliciosa Bairrada.
Este são
convívio que intervalo com algumas horas de trabalho e outras de solidariedade
dinâmica (que, há muito, me tem levado a dizer que só ganho o dia quando
aprendo algo de novo, ensino alguma coisa ou faço alguém mais feliz do que
estava), tenho histórias para contar, que enchem corações e gargantas de risos
e olhares de longos e abertos sorrisos.
- Então como vai
Sr. Afonso? – Perguntei.
- Olhe, vou como
o Cão do Nam, vou como o Cão do Nam… (Respondeu-me o velho Afonso do seu olhar
curvo a partir das bengalas tortas).
Confesso que não
percebi, mas escusei-me a mostrar, ali, como se estivesse despido, a minha
ignorância toda. Mas, guardei, para mais tarde perguntar.
Cortezia de um Amigo (Obrigado) |
No dia seguinte,
entre dois tintos, de mastigar e chorar por mais, e duas sardinhas fritas de um
dia para o outro, perguntei a uns amigos se alguém conhecia o Cão do Nam. Pela
gargalhada franca e contagiosa da sala percebi que a fera era conhecida.
Explicaram-me
que o Nam era uma figura, um cromo, como a malta nova costuma dizer. Tinha dois
cães e não só um, não, não eram ferozes… A fera era mesmo o humor telúrico,
talvez acentuado pelo terroir bebido ao longo de anos.
Uma certa
ocasião, vindo o Veterinário Municipal ao lugar, para vacinar os canídeos do
vilarejo, apresentou-se o Nam com os cães para o efeito fadário.
- Como se chama
o cão? (perguntou o S.r doutor).
- Cada vez Pior.
(respondeu pronto o Nam). Cada Vez Pior, Sr. doutor.
O Veterinário
calou a caixa, meteu agulha, verteu seringa, o cão latiu, o dono calou, a coisa
seguiu.
Assim ficou, para
sempre, gravada naquela doce e branda gente, a expressão memorável e engraçada:
- Então como
vais?
- Olha, vou como
o Cão do Nam… Cada Vez Pior.
Se, daqui por
mil e um anos, alguém quiser explicar a origem da expressão, se ainda houver
escrita e olhares sobre a razão, talvez não seja necessário explicar: “Era o
simples cão, apenas cão, do Manel Nam.” Tal qual o cavalo do D. Quixote que
por ser só cavalo se passou a chamar Rocinante.
Ah, mas ele
tinha dois cães, e o outro, como se chamava o outro?
Já Disse
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