Cuidado com os
miúdos!
Quando era bem
pequeno e alguém ficava doente ou morria, costumava perguntar, ao meu Avô
Bigorna, se eu também ia morrer.
Na sua grande
generosidade, ou por piedade, simplesmente, ele sorria e dizia-me:
- Não. Tu vais
ficar cá, com os comboios.
Ilustração de Danielle-Mae Duran (Beijinhos) |
Eu ficava mais
sossegado e nem voltava a preocupar-me com aquela questão. Tirando o facto de
nem imaginar o que seria um comboio, para mim, não morrer já estava para lá de
mais melhor.
Continuei a
crescer, vi o mar, conheci os comboios e, a ideia de ficar com os comboios e
poder continuar a ver o mar, não me desagradou.
Depois disso, já
me desiludi com tantas coisas que, confesso ter perdido, muitas vezes, a
esperança de não morrer. Direi mesmo que a maior parte dos últimos tempos só
acreditei que ia morrer.
Mas, nos últimos
dias, não só recordei esta doce vivência entre mim e o meu avô, como me sinto
impelido a voltar a acreditar que posso ficar cá… Com os comboios.
Na realidade,
pensei um pouco (acreditem que não doeu muito), e reconheci que o Velho Bigorna
pode muito bem ter razão…
Afinal, ele
disse-me algo que há mais de 50 anos a realidade ainda não desmentiu. Continuo
VIVO!
Se vou ou não
ficar com os comboios? Pouco me importa. Preferiria ficar cá mas que alguém
ficasse com os comboios por mim.
Porquê?
Por puro
egoísmo… Assim teria a certeza de não ser o único a ficar por cá.
Ah! E já agora,
que engraçado. Com tudo isto acabei por descobrir que o Velho Bigorna continua
tão vivo em mim… Até fomos os dois ver passar os comboios…
Muito bonito, genuíno!
ResponderEliminarFicamos para (deixamos) semente! Dizia-se na minha aldeia!