sábado, 14 de março de 2020


Corajosos…

Somos um país de guerreiros… O mundo já nos temeu e sabe disso!
Ilustração de Susana Dias (Obrigado)
Ainda ontem pude constatar tais heróicas e loucas medíocres virtudes.
Um padre, não, juro que já olhei várias vezes para a palavra para me certificar que não tinha escrito parvo, dizia a plenos pulmões que esta doença nova (a pneumonia por covid-19), não vale nada e que dela não deveríamos ter receio.
Eu até o compreendo, será um homem de fé e convicções. Não tem medo do covid-19 mas, pelo sim, pelo não, tem um para-raios na torre da igreja.
O problema não é ele não ter medo, o problema é se ele abre a boca, lá da pira onde anuncia outras barbaridades… Se ele tosse outras temeridades. Que infernos poderá ele anunciar.
Ao ouvir este (não encontro, no baú das palavras que rimem com ão, uma que defina bem coisa), vem-me à memória uma história batida, que minha avó tantas vezes me contou, quando eu ainda usava calções,  ainda andava descalço e praguejava quando estoirava o dedo grande do pé numa raiz distraída (distraída a raiz, só para clarificar).
Pisco de Peito Ruivo - Foto de Bigorna
Contava então, minha Avó, que estando, um belo dia de tempestade, um Pisco, abrigado da chuva, debaixo de um penedo do tamanho de uma casa, olhou cheio de admiração a criação grande do grande deus e pensou:

 - Se este penedo caísse, eu, como sou forte e grande (grande como um pisco dos grandes), eu era capaz de o segurar…
Mal se tinha acabado de esfumar o pensamento pequeno do grande pisco, já se ouvia no ar o ribombar ruidoso de um trovão (voz irada de deus, certamente). O que resultou num grito aflito do pobre e corajoso pisco (juro que já olhei várias vezes para a palavra para me certificar que não tinha escrito padre):
- Ai meu senhor! Tende lá mão nisso, que são muito fracas as pernas do pisco!

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