segunda-feira, 11 de maio de 2020


Dia da Enfermeira

Comemora-se, Amanhã, 12 de Maio, o Dia Internacional do Enfermeiro.

Há uma pérfida tendência para o machismo, na nossa sociedade. Denominar dia do Enfermeiro, quando falamos de uma profissão maioritariamente no feminino, não me parece completamente inocente. Por mim, confesso que não me cairia nada por falar em dia da Enfermeira, contando que seja, sempre, com letra maiúscula.
Ilustração de Danielle-Mae (Obrigado)

Não é nova, na humanidade, a tentativa de subjugação e submissão das mulheres. Até a criação de deuses e deusas foi abandonada, para dar lugar a um deus macho, único e poderoso.
Pois tenho para mim que deus que é Deus, mais perfeito seria se fosse gaja e, que por mais perfeito que fosse se sentiria melhor na companhia de outros deuses.
Mas não, o homem assim o criou e ao criá-lo, não contente, criou ainda a sua criação e, ao criar a sua criação, ainda insistiu em criar primeiro o homem e dele fazer a mulher. É preciso lata e falta de gosto e de imaginação. Todos sabemos que, se deus fez algo melhor que a mulher, só ele saberá o que é, guardou só para si próprio…

E, depois que a humanidade se conhece, depois que o mundo é mundo, existem enfermos e enfermeiras que os cuidam, que lhe são apoio na sua falta de firmeza ou lhe são as mãos e os pés e as pernas, na sua falta de mobilidade. Talvez este “fermo” possa ter a mesma origem do italiano quieto.
Trata-se, não da profissão mais antiga do mundo, que essa sabemos bem que é a de usurpador. Também percebi, na cabeça de alguns, que a mais antiga do mundo seria a prostituição. Lá vai dar quase ao mesmo. E a pior não é a do corpo, é a do cérebro, é óbvio. Mas, a tal enfermagem, a gente que cuida de gente, será, sem dúvida, das mais antigas da humanidade.

Foi, então, criada a Enfermeira, uma boa ideia de criação. Um ser afável, mas sem coração, que tê-lo não dá jeito, é perigoso e pode atrapalhar. O meu, há já muito que o trago no bolso de outras calças, deixo-o na gaveta, quando vou trabalhar, sou um desalmado e sem coração.
Apenas dois braços fazem das enfermeiras seres pouco produtivos, pouco eficientes e mesmo pouco eficazes. Com uma mão tratam, com a outra confortam, com a outra escrevem poesia nos lençóis descartáveis, e se mais houvesse melhor seria. Não se admitam nas escolas enfermeiras com menos de três braços.

Tal como (as dores e as enfermidades; e a morte; e o nascimento; e a tristeza; e a alegria), não possuem qualidade de noite ou de dia, da mesma exacta forma que não existem feriados nem dias santos para os heróis do dia a dia, convém que estejam munidas de apêndices vários, para poderem ser noite e luz, para poderem ser abnegação e conhecimento, para que a sua presença seja como o mar, a terra e o vento, sempre presentes.
E assim se criaram as enfermeiras, bastante perfeitas, bastante bem-feitas, mas talvez brancas e sem identidade, melhor ainda que não tivessem nem alma nem vontade…

Para quem não sabe, com mil saberes de mil qualidades, com o ecletismo na cabeça e o holismo no sítio do coração. Até da merda, que o enfermo caga, faz objecto de leitura e mensuração.

Enfim, parece que o Homem não é muito bom a criar deuses, mas, em contrapartida, sabe fazer, eximiamente, Enfermeiras. Saiba o mundo conhecê-las, mas também reconhecê-las. Como verdadeiras artistas que são, merecem palmas.

Mas só palmas não enchem barriga.

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