sábado, 9 de maio de 2020


É dia da Europa, não é dia do Carácter nem da Solidariedade.

Não rasgueis, ó gentes, as vestes da vossa letícia nem da vossa indignação, pois que o momento não é nem tão fausto nem tão infausto que tal mereça.
Na mitologia, antiga, assistimos à fuga da filha de Paris, preie de luxúria e a verter pulcritude, no dorso de Zeus, disfarçado de touro, atravessando os mares, com destino a Creta.
Hoje assistiremos à fuga da mesma ninfa, ainda esbelta, mas no dorso do FMI, disfarçado, não de touro, mas de escorpião. Ele, FMI, pronto a espetar-lhe, no ventre, o ferrão da usura. Ela, pronta a prostituir-se, não na saudosa ilha de Creta, mas num qualquer paraíso fiscal. Ambos ébrios de lascívia, prontos a apear todos os deserdados da sorte deste velho continente ou de todos os continentes e de todos os universos que pudessem e onde reinassem. Solidariedade, para os seus governantes, é uma palavra vazia de significado, carregada de muitos D (de desprezo) e de Sol que nunca será para todos.
Quanto ao carácter, esse não se aprende na escola, bebe-se no seio materno, à luz do luar, nas noites das maiores tempestades
.
Esta semana, em contexto de trabalho, em plena tempestade pandémica deste SARS Covid-19, assisti a uma discussão que me levou à náusea. Dois profissionais de saúde, de uma pútrida e fingida estrutura disfarçada de prestadora de cuidados, discutiam sobre quem deveria atender um utente. Um deles argumentava pleno de sapiência pia e parva:
- Alguém devia avaliar a temperatura ao utente antes de eu o observar. Não é justo que seja só eu a ter contacto com o utente.
Talvez ele entendesse não dever ser só ele a correr o risco de ser infectado. Uma nova forma de ser solidário, portanto.
Vai lá tu, vai lá tu…
Eis aqui uma comovente manifestação de carácter. Foi a escola que lha ensinou, certamente.

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