É dia da Europa, não é dia do Carácter nem da
Solidariedade.
Não rasgueis, ó gentes, as vestes
da vossa letícia nem da vossa indignação, pois que o momento não é nem tão
fausto nem tão infausto que tal mereça.
Na mitologia, antiga, assistimos à
fuga da filha de Paris, preie de luxúria e a verter pulcritude, no dorso de
Zeus, disfarçado de touro, atravessando os mares, com destino a Creta.
Hoje
assistiremos à fuga da mesma ninfa, ainda esbelta, mas no dorso do FMI,
disfarçado, não de touro, mas de escorpião. Ele, FMI, pronto a espetar-lhe, no
ventre, o ferrão da usura. Ela, pronta a prostituir-se, não na saudosa ilha de
Creta, mas num qualquer paraíso fiscal. Ambos ébrios de lascívia, prontos a apear
todos os deserdados da sorte deste velho continente ou de todos os continentes
e de todos os universos que pudessem e onde reinassem. Solidariedade, para os
seus governantes, é uma palavra vazia de significado, carregada de muitos D (de
desprezo) e de Sol que nunca será para todos.
Quanto ao
carácter, esse não se aprende na escola, bebe-se no seio materno, à luz do luar,
nas noites das maiores tempestades
.
Esta semana, em
contexto de trabalho, em plena tempestade pandémica deste SARS Covid-19,
assisti a uma discussão que me levou à náusea. Dois profissionais de saúde, de
uma pútrida e fingida estrutura disfarçada de prestadora de cuidados, discutiam
sobre quem deveria atender um utente. Um deles argumentava pleno de sapiência pia
e parva:
- Alguém devia avaliar
a temperatura ao utente antes de eu o observar. Não é justo que seja só eu a
ter contacto com o utente.
Talvez ele
entendesse não dever ser só ele a correr o risco de ser infectado. Uma nova
forma de ser solidário, portanto.
Vai lá tu, vai
lá tu…
Eis aqui uma
comovente manifestação de carácter. Foi a escola que lha ensinou, certamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário