Viva O 25 de Abril
Há 46 anos
atrás, eu tinha 7 anos de idade. Não tinha luz eléctrica em casa, nem
televisor, nem entendimento para saber o que era uma ditadura nem uma
revolução.
Fotografia de Bigorna (... Num campo qualquer) |
Tinha um pequeno
transístor, que funcionava com pilhas, que fazia companhia a toda a família,
nos serões e logo pela manhã, quando minha mãe fazia o almoço que meu pai
levaria para o trabalho.
Eu, levantava-me
pelas 6 horas e ouvia rádio, às vezes entendia e outras vezes também não, mas
ouvia. Naquele dia havia música, nunca tinha ouvido aquela música, falava de
uma tal Grândola Morena. Pensei, algum tempo, que que era uma menina… E até
era, engraçado.
Percebi no rosto
de meus pais um olhar grave e preocupado, mas ao mesmo tempo de admiração e
expectativa. Havia uma revolução, lá em Lisboa. Para mim, devia ser tão longe,
tão distante, talvez várias vezes a distância que separava a minha aldeia da
sede de Concelho, e era quase uma hora a andar bem. A revolução não chegaria
cá… Assim pensei e assim me atirei ao pequeno almoço. Minha mãe enchia a
lancheira de meu pai, o que não cabia nela era o meu pequeno almoço. Claro que
ela já fazia um pouco mais para sobrar. Obrigado Mãe… Hábitos rústicos, para
alguns, hábitos saudáveis para o que agora sabemos. Pequeno almoço à séria.
Meu pai
recomendou a meu irmão que não fosse pela estrada habitual, no caminho para a
escola, a tal hora de caminho. Pode ser perigoso, não se sabe o que aquilo pode
dar! Poucos minutos depois percebemos que era melhor ficar em casa. Não houve
escola, nesse dia.
Minha mãe, meu
avô e minha avó, foram semear uma terra de milho. Levámos o transístor. Na hora
de passar a grade na terra, puxada pelos meus avós e pela minha mãe, eu
substitui a pedra que se colocava em cima da grade, para fazer peso, e
transportei o transístor. Trabalho duro, puxar a grade. Normalmente feito por
animais de tracção, para quem tinha posses…
Fui ouvindo,
muitas e muitas coisas, tenho muito boa e muito boas memórias. A maior de todas
elas, que juro só voltei a escavar, da cachimónia, passados alguns anos, foi
ouvir meu avô dizer: “Se isto pegar, vou
negociar com o patrão (era o dono das terra, mas parecia o dono da Terra), para
lhe pagar menos medidas de milho, já não vou ter medo que me ameasse, com a prisão,
só por lhe pedir o que é justo!”.
Eram quarenta
medidas de milho por ano (quarenta alqueires), a renda. O suor que a terra bebia,
sugava-o o dono da terra. Morreu e levou as mãos nuas, afinal…
Não mudou muito.
Porra!
Os anos
passaram. A escola não foi a melhor… Muitos de nós não percebemos que “Eles
ainda andem aí”.
Mas, é possível
escrever o que escrevi (mesmo em desacordo com o acordo). É possível falar. É possível emitir opiniões. É
possível ir ao médico sem ter que vender tudo até às cuecas.
Cresci, tento
fazer da terra uma terra de fraternidade. O povo não é quem mais ordena. Não
porque não deva, mas porque não sabe e quem ordena quer que pareça que o povo
ordena ser submisso. Colonizadores do cérebro dos outros. Cucos.
Cresci, tive o
grato prazer e a honra de ter sido Oficial Miliciano subalterno de Salgueiro
Maia. Obrigado! Homem verdadeiramente humano. Cresci, e de quando em vez ainda
dou uns abraços a Vasco Lourenço. Homem Grande, todo Grande, parece que nem
cabe dentro dele próprio.
Cresci e conheci
militares de Abril aos quais me curvo, sem medo, mas por gratidão e
reconhecimento.
Viva o 25 de Abril! Viva A República! Viva
Portugal!
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