sexta-feira, 25 de agosto de 2023

 Não,

Não estamos sempre a aprender.
Não só discordo como me permito, do alto do meu mais de meio século de defeitos e mau-feitio, morder as vossas certezas sobre esse delicado assunto. Talvez, mesmo, dizer-vos que, esta afirmação, pode ser uma vontade de inibir a vossa capacidade de aprender. Há gentalha capaz de tudo!
Raro é o dia em que a frase “Estamos sempre a aprender”, não passa por mim, acompanhando “cumprimentos insípidos” e “risos ocos”. E eu “olho-os com os olhos lassos, há nos meus olhos ironias e cansaços…”, e tenho que contrariar. Não! nós Temos capacidade para aprender, sempre. No entanto, só aprendemos se estivermos disponíveis para tal.
Partir do pressuposto que o conhecimento é como a chuva, é um erro Crasso. Para apanhar chuva basta não usar guarda chuva. Para aprender é necessário despir o fato das certezas, tirar o chapéu do preconceito, rasgar a arrogância e a teimosia.
O ser Humano, mesmo o mais frágil, talvez mesmo aquele que possa parecer moribundo, pode manter a deliciosa capacidade de aprender sempre. Facto que faz da vida um percurso delicioso e aliciante.
Mas é necessário despir as certezas, pormo-nos em causa, duvidar de nós próprios.
Para aprendermos com a chuva persistente de conhecimento, que são os segundos, os minutos, as horas dos nossos dias, é necessário tirar a crosta das certezas absolutas.
Se ao viver, ao fazer, ao estar, acrescentarmos perguntas, antes de fazer, durante o fazer e depois de fazer. Se nos perguntarmos como fazer (ou perguntarmos a alguém), se ponderarmos, durante o “tiro”, emendar a mão, se depois do “feito” nos interrogarmos sobre o resultado, sobre as consequências, sobre o que os outros receberam disso… Talvez tenhamos aprendido algo. Talvez.
Quando falo, sobre isto, a alguém e alguém me diz que não é assim e que simplesmente estamos “sempre a aprender” … Eu digo que sim, que também, que sim senhor… E não perco tempo com a discussão. Aproveito esse tempo para tentar aprender alguma coisinha.
Boas aprendizagens, para sempre.

Bigorna (XXV6023VIII)
(Não sei se sei desenhar…)

quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Orbitante

 

Vou correr atrás do tempo,


fugir de mim,

olhar de frente os sois da tarde,

prender-me com atilho à pontinha fina da lua e ir no vento.

Quero navegar num céu cinzento,

banhar-me em pó de estrelas,

tremer no tremor dos afectos,

Vestir gemidos orvalhados por desejos,

vibrar nos estertores inquietos,

ouvir o rumor gutural que tange do coito sagrado e fremente dos universos.

 

Bigorna (XVII6023VIII)

(Fotografia de Bigorna)


quarta-feira, 16 de agosto de 2023

 Bom mesmo é Bosta de Vaca

Uma vez cagada está pronta a estrumar e nutre bem a terra.
Certos profissionais delongam a sua formação académica. Ainda a
ssim, saem do forno malcozidos como os pães feitos à pressa, insípidos e inacabados. No dia seguinte já estão ressequidos, azedos, rançosos, intragáveis e arrogantes. Olham o seu trabalho e as pessoas, do alto da burra e se caírem ferem a terra desonrando as bostas que a nutriram e os alimentou. Sentem repugnância da matéria orgânica que somos e das nossas doenças. Aprenderam tanto sobre dejectos que a única coisa que querem é manter-se longe. É frequente que a única referência sobre humanidade, que possuem, são eles próprios. Não espanta a forma como pensam.
São como a merda de cão, nem para estrume servem.
Bigorna (XVI6023)
(Fotografias de Bigorna)

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Enfermamos

 

Ontem, 13 de Agosto de 2023, completaram-se 123 anos sobre a morte de Florence Nightingale, Nascida a 12 Maio 1820.  Figura tida por muitos como a percussora da Enfermagem Moderna, o que terá merecido pela sua actuação na liderança e na organização da assistência às vitimas da Guerra da Crimeia (1853-1856), sobretudo dos soldados.

É Agosto, quente, talvez até um pouco enfadonho, alguns retratos dos nossos olhares já mostram paisagens a vestirem “outonalidades”, como se desejassem avelhentar-se, por antecipação em invernias de esquecimento. E o meu pensamento voou, não para a enfermagem, mas para a Crimeia e para o quanto nada de novo nos esvoaça nos tempos que se dizem modernos.

Russos e o resto do mundo continuam uma Guerra por uma península que garante navegar em águas abertas, americanos que atiram pedras e escondem as mãos sujas com sangue de inocentes, ucranianos que morrem, num país frio de relações sociais e tolerâncias, pelo calor de bombas que chovem sobre quem não faz a guerra, mas que não querendo pôr fim à guerra atiram misseis sobre o Pais Agressor, talvez para ir mantendo o Vulcão activo e aceso.

Para não variar nem avariar, o papa reza pela paz (sem se comprometer), e os seus homólogos ortodoxos, de Ucrânia e Rússia benzem bombas, metralhadoras e “tanques” de guerra (como se de selhas de lavar a roupa de soldados se tratasse).

A indústria de armamento esconde o sorriso rejubilante dos lucros, o ribombar abafa os gritos e o fumo esconde as lágrimas das mães deserdadas da sua prole. Soldados violam mulheres a esmo (sob a decência de não escolherem se são ou não suas compatriotas), e a igreja esconde, sob essas violações e em trovoadas de emoções rubras e águas turvas do rio Trancão e chuvas de hóstias, os seus crimes desta e de todas as histórias (também cabem lá todos, todos, todos, mas mesmo todos).

Por cá, como por todo mundo, enfermamos e esperamos pacientes pelo velar da lamparina de Florence Nightingale. A enfermagem moderna que se fornique, por cá vai esperando as ordens que os seguros e a saúde no género privado vão dando à Ordem dos Enfermeiros mas também à Ordem dos Médicos.

A novidade chega pelos altifalantes dos mortos de pálpebras cerrados por enfermeiras (no último suspiro da desilusão), que não tendo conseguido apaziguar as suas cruentas chagas de enfermos, se ajoelham avassaladas aos mais hediondos estafermos.



Bigorna (XIV6023VIII)

(Desenho do Autor)

quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Nave somos

 A árvore faz de vela.


Rumo ao mundo,

O Bussaco, com o Oceano em doce fundo, na roda do leme a incerteza do rumo desta vasta caravela.


O vento é a vontade, o lastro
é forte e fecundo.


Telúricos agora navegamos , sem vaidade, só o tempo saberá a onde vamos.


Bigorna (VIV6023VIII)

(Fotografia de Bigorna)

terça-feira, 8 de agosto de 2023

 Carta Aberta a Todas as Mães de Todos os Mundos


Sem rodeios, que o tempo é um vento veloz e faz da idade um animal intrepidamente voraz feroz.
Tu que tens a inimitável virtude de ser detentora de um átrium sagrado, onde toda a humanidade germina, sê fermento da luz que em cada pessoa, por teu útero se perpetua.
Rasga, com energia inequívoca e determinante, os mais aviltantes e redutores conceitos de virgindade. Todos, todos aqueles que possam ter o peso da matemática, dos relógios ou da matéria orgânica.
Que doravante possas gravar a quente e a sangue, em cada um dos teus filhos, em palavras de aquífera e indelével clareza:
Meu Filho, seja sempre em ti presente que, em todos e em cada novo momento que estejas com uma mulher, com a mesma mulher ou com qualquer outra mulher, ela é inquestionavelmente, inequivocamente, virgem.
Não reste, nem para ti nem para qualquer outro, dúvida de que a mulher, ao franquear a entrada não perde o direito à porta, e quem entra será sempre visita na qualidade incondicional de convidado.
Sê irrepreensivelmente delicado. Seja, para ti, o corpo, sempre virgem em cada visita, o templo mais sagrado da religião que mais te preencha o acreditar.
De hoje em diante, Mães de todos os mundos, que não existam mais mulheres que não sejam virgens nos olhos e no coração dos vossos filhos, por todas as vezes que elas lhes franqueiem a suas sagradas portas. Amen.
Bigorna (VIV6023VIII)
(Fotografia de Bigorna)

 Gosto de Gatos

Animais a quem os humanos não conseguiram, nunca, extrair a essência selvagem.
Permanece, nos gatos, um desafio cons

tante à liberdade e independência.
A relação com um gato é um ensinamento constante sobre a não colonização do outro e das suas vontades.
Se o gato não te quer não fica...
Saibamos respeitar a decisão dos outros, sem chantagens. Se o gato não te quer, não adianta seduzir...
Eu gosto de Gatos, mesmo que os gatos sejam Gatas.
Bigorna (VIII6023VIII)
(Fotografia do Bigorna - A Gata Zina)

Onde Vais?

Somos, eu tu, feitos de caminhos.
Caminhos por onde caminhamos, com os outros e com a nossa e a sua solidão.
Idos, por vezes de mão na mão e outras com os braços a anunciar abraços deitados ao chão.
Ou descobrimos, caminhando, criando laços.
Trilhamos caminhos velhos sem vontades de serem trilhados, mas que podem levar aos mais belos quadros.
É necessário arriscar, ouvir a voz demorada do vento.
É urgente dar utilidade ao tempo…
Depois entardecemos de caminhos pedregosos que ninguém usou, ficamos por descobrir, partimos… mudos… cegos… sem sermos vistos, sem alguém que tenha sabido o que sentimos.
Bigorna (VII6023VIII)
(Fotografia do Bigorna)

 Nada de novo.

Só porque tenho constatado que os adeptos da religião católica (católica=universal – Slogan promocional pretensioso), se têm manifestado muito indignados com algumas críticas, recados humorísticos,

etc (a propósito da tempestade tropical JMJ), apetece-me vir a terreiro recomendar:
- Aproveitem. Não é todos os dias que o mundo vos ensina tanto. Normalmente, os padres abrem a taberna e o vinho é só para eles… ninguém lá vai… a não ser os miseráveis que entram pobres e saem defraudados e com a mesma fome.
Mas, cá vai.
Isto das JMJ é uma coisa para jovens (certo?). Não falo dos que vão porque se acham jovens. Isto é mesmo uma coisa para aquela malta, amorfa, que vive atrás de um ecrã de um gadget qualquer, a dizer, a fingir que comunica com as pessoas, por mensagens… Iah; cool; fixe; bué; fui…
Isto é para aquela malta nova que não necessita de presença em aulas (basta assistir por webinar), que não curte relações, que foi feita com leite em pó. Isto é feito para gente que lhe basta conhecer as pessoas pelas redes sociais e que, quando muito segue umas séries manhosas, nos streamings, sem se interrogarem sobre o que estão a fazer com o seu cérebro (aos que têm ou usam).
Mas afinal, que raio querem esses jovens dizer, quando afirmam:
- Vou às JMJ para conhecer o Papa…
(!!!!????!!!!)
Bem, se querem comer papas ou serem comidos de cebolada ou que vos comam as papas na cabeça… bem-vindos ao comício do “Pampanal”.

“Giovani, non abbiate paura di sognare”!

Bem-vindos ao mundo em que vos querem vender a vontade de:
SE ÉS JOVEM, TENS VONTADES PRÓPRIAS E AMBICIONAS O FUTURO. VIVE DE FACHADA.
Depois volta para casa e espera que apodreça.

Bigorna (I6023VIII)

(Ilustração de Bigorna)

  Pimenta no cu dos outros… (Série)   Inspirado num poste sobre espera. A vida, se a observarmos, de todos os lados, e a conseguirmos ...