segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Enfermamos

 

Ontem, 13 de Agosto de 2023, completaram-se 123 anos sobre a morte de Florence Nightingale, Nascida a 12 Maio 1820.  Figura tida por muitos como a percussora da Enfermagem Moderna, o que terá merecido pela sua actuação na liderança e na organização da assistência às vitimas da Guerra da Crimeia (1853-1856), sobretudo dos soldados.

É Agosto, quente, talvez até um pouco enfadonho, alguns retratos dos nossos olhares já mostram paisagens a vestirem “outonalidades”, como se desejassem avelhentar-se, por antecipação em invernias de esquecimento. E o meu pensamento voou, não para a enfermagem, mas para a Crimeia e para o quanto nada de novo nos esvoaça nos tempos que se dizem modernos.

Russos e o resto do mundo continuam uma Guerra por uma península que garante navegar em águas abertas, americanos que atiram pedras e escondem as mãos sujas com sangue de inocentes, ucranianos que morrem, num país frio de relações sociais e tolerâncias, pelo calor de bombas que chovem sobre quem não faz a guerra, mas que não querendo pôr fim à guerra atiram misseis sobre o Pais Agressor, talvez para ir mantendo o Vulcão activo e aceso.

Para não variar nem avariar, o papa reza pela paz (sem se comprometer), e os seus homólogos ortodoxos, de Ucrânia e Rússia benzem bombas, metralhadoras e “tanques” de guerra (como se de selhas de lavar a roupa de soldados se tratasse).

A indústria de armamento esconde o sorriso rejubilante dos lucros, o ribombar abafa os gritos e o fumo esconde as lágrimas das mães deserdadas da sua prole. Soldados violam mulheres a esmo (sob a decência de não escolherem se são ou não suas compatriotas), e a igreja esconde, sob essas violações e em trovoadas de emoções rubras e águas turvas do rio Trancão e chuvas de hóstias, os seus crimes desta e de todas as histórias (também cabem lá todos, todos, todos, mas mesmo todos).

Por cá, como por todo mundo, enfermamos e esperamos pacientes pelo velar da lamparina de Florence Nightingale. A enfermagem moderna que se fornique, por cá vai esperando as ordens que os seguros e a saúde no género privado vão dando à Ordem dos Enfermeiros mas também à Ordem dos Médicos.

A novidade chega pelos altifalantes dos mortos de pálpebras cerrados por enfermeiras (no último suspiro da desilusão), que não tendo conseguido apaziguar as suas cruentas chagas de enfermos, se ajoelham avassaladas aos mais hediondos estafermos.



Bigorna (XIV6023VIII)

(Desenho do Autor)

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