Às vezes é bom duvidar de nós próprios…
Deveríamos andar pelo ano
de 1972, talvez 73. Estio, céu carregado de meio de tarde. Adivinhava-se
trovoada.
E Assim foi, lá começou “deus nosso
senhor a ralhar”… Para criança é muito aconselhável, para adulto muito útil, para
o cinzentismo , da altura,melhor ainda.
E, eu, tal como diz José
Fanha:
“ (…)Nasci
deste lado da cidade
nesta margem
no meio da tempestade
durante o reino do medo.
Sempre a apostar na viagem
quando os frutos amargavam
e o luar sabia a azedo.(...)”
(Eu Sou Português Aqui)
Abrigámo-nos
na pequena choupana de palha, começara a chover. E eu vi. Juro que vi. Tal como
os meus e os teus olhos veem, todos os dias, o sol a dar a volta à terra e à nossa pobre cabeça. Eu vi…
Vi chover rodelinhas de cebola, branquinhas, saltitando sobre a caruma do chão.
Espectáculo que guardo até hoje, na minha memória, como que gravado na parede
interior das minhas pálpebras. Basta fechar os olhos e volto a ver tudo outra e
outra vez.
Quando
falei disto, anos mais tarde, todos os que estavam comigo se recordavam do dia,
da choupana, da trovoada, da chuva… Mas das rodelinhas de cebola? Ninguém.
Riram-se de mim. Ninguém valorizou. Também não me levaram ao médico… Coisas de
criança. Nunca ninguém viu chover rodelas de cebola.
Mas eu
vi. Hoje, com o envelhecimento, sei lá, começo a duvidar de mim próprio. Talvez
não fossem rodelas de cebola. Talvez pudessem ter sido pedaços de pepino… penas
de algum anjo… pena que ninguém duvide comigo…
Estranho
Que pena - Foto de Bigorna |
Hoje caíram do céu mil pedrinhas,
pequeninas, redondinhas.
Pensei que os anjos de lá,
vinham brincar para cá,
mas os anjos não apareceram…
Será que se arrependeram?
Fui ver, de mansinho… Olhei…
Peguei
nelas… Que fresquinho!
Logo me veio à ideia:
- Será obra de uma bruxa feia?
Mas também não.
A bruxa não era a razão…
Porque logo que as aqueci,
de tão felizes… Choraram,
em gotinhas se derreteram…
E no céu se evaporaram.
Voltaram para a sua mãe…
Pensei eu…
Vou procurar mais além,
pensar no que aconteceu,
inquirir mais alguém…
Assim fui pelo caminho,
matutando, sozinho,
dando voltas ao juízo.
Foi então que ouvi dizer,
que o que estava a chover,
era apenas e só granizo.
Que pena! É só chuva gelada…
E depois de tanto pensar,
Para longe me deixei levar.
Sorri… Do céu, daqui a nada,
as fadas farão
nevar…
Bigorna
Sem comentários:
Enviar um comentário