terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Teia?


Rosa-dos-Ventos?

Relógio de contratempos...

Teia-de Aranha (fotografia de Bigorna)
Para que banda rodam os ponteiros da tua ideia?

Será que estou a salvo ou a próxima bomba vai cair onde me escondo?

Mais dia menos minuto seremos o próximo alvo...

Da aranha nem sinal.

Do bem só vestígios de manha. Do mal só a esperança que não venha.

        (Poesia de Bigorna, 2022)

terça-feira, 29 de novembro de 2022

 Hoje, do nada...


(Fotografia de Bigorna)
Vêm vão... Passam e voltam...
Hoje, enquanto usava e abusava dos combustíveis fósseis, com a minha viatura vetusta e lenta, olhei para o céu... Não era o inferno mas percebi que o paraíso não era naquele rumo. 

Lembrei-me da estória do rato e do elefante, a caminhar no deserto. O rato pede ao elefante para parar: 
- Olha para trás. Já viste a poeira que nós vamos a fazer?! 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

 

O que faz falta já não é “Animar a Malta”, o que faz falta é “Qatar”.


Estátua do Cavaleiro da Capela dos Ferreiros
(Fotografia de Bigorna)
Esta Estátua de cavaleiro, está presente na Capela dos Ferreiros (Monumento Nacional), Oliveira do Hospital, Distrito de Coimbra.

Capela construída na primeira metade do século XIV para albergar as estátuas jacentes de Domingos Joanes, Cavaleiro Medieval e de sua esposa.

Uma recordação dos tempos em que os cavaleiros das nossas bravas ordens de cavaleiros faziam cumprir os direitos humanos e religiosos, (tudo às direitas e como mandava a Lei), por todo a Europa e Médio Oriente.

(…)mas, enfim, esqueçamos isto."


domingo, 20 de novembro de 2022

 Paciência…

“O Manel tinha uma bola, que rolava pelo chão na calçada ela rebola, deu-lhe uma dentada um cão.”

Assim rezava uma cantiga de José Barata Moura, lá nos meus verdíssimos anos.

Agora a bola rola, lá para os lados de um Oriente Mediano, de onde o Sol deveria trazer boas notícias, mas de onde o vento cala a desgraça de onde o vento nada me diz, e de lá e de cá chegam velhas novidades que não é conveniente noticiar.

 

Os nossos meios de comunicação social parecem andar a tomar medicação para a ejaculação precoce e, vai-se a ver, tudo se lhe retarda. Tolda-se-lhes o cérebro com a vista e o dinheiro com os petróleos e o mal é das ovelhas. Desculpem-me a confusão, mas se a uns se podem baralhar as letras com as acções, as promissórias com as dívidas e as verdades com os silêncios, porque não haverei eu direito de baralhar as palavras com as ideias?

 

Vai para mais de 10 anos que o Qatar foi escolhido para organizar o campeonato do mundo, mas só agora se descobriu que é um país que não respeita os direitos humanos. Coisa de uns dias de atraso que poderá redundar numa prenhez de mortos, torturas, prisões, excomunhões e outros “ões” terminados em “depois a bola rebola pela calçada…” e se ganharmos que se forniquem os Direitos Humanos.

 

(Fotografia de Bigorna)
Há dezenas de anos que se avolumam agentes da autoridade com vontades racistas, xenófobas, misóginas, homofóbicas, etc., mas só há poucos dias se descobriu isso. Coisa sem relevância. Não podemos tomar a árvore pela floresta, nem a videira pela vinha. Também não podemos tomar a sociedade pela existência de minorias…. Há uns quantos que se lixam, mas nem todos são lixados.

 

Está tudo preto no branco, escarrapachado no mundão, mas a miopia não perdoa.

 

Nada te turbe
Nada te espante
Dios no muda
Todo se pasa
La paciencia
Todo lo alcanza
Quien a Dios tiene
Nada le falta
Solo Dios basta

oração, atribuída a Santa Teresa de Ávila (1515-1582)

 

PACIÊNCIA

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Para quê um Céu eterno quando temos um que não se repete?


 Há um Céu para Cada Momento


Há um céu para cada momento.
(fotografia de Bigorna)


Há um azul, pleno de sol, com uma ave cantante,
para quando tens tempo.
E há outro para quando o semblante
é pesado e cinzento.

Há, até, céus que são da cor do pensamento…

De que cor é o teu céu
quando pensas em mim?
Ai… Se fosse neste momento…

Terá nuvens brancas?
Terá estrelas e luz sem fim?
Será da cor do Vento?

Haverá nele um arco-íris ou flocos de neve,
caindo, mansinhos, como flores no jardim?

Há um céu para cada vontade e momento…
Neste, que eu vejo,
há mil cores misturadas no vento,
e há segredos sussurrados num beijo…
Há um querer, sem cor, que se dilata no tempo!

                                                                             Poesia de Bigorna

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

 

Nada de novo.


Mudam os caretos, uns deixam a broa, outros "(...)comem tudo e não deixam nada."




O Céu Escurece.

 

Ventos rasantes cobrem de negro calados prados e seres errantes.

E nós, soturnos, aspergidos de negros medos,

tangemos o fosso fundo dos caboucos com os nós sangrantes dos dedos.

 

Esperanças mortas e vãos anseios escorrem sob os umbrais das portas.

O céu escurece…

Voam vampiros, sugando o alento (que traria o sol e levaria voando o vento),

cobrindo os homens de um céu lúgubre, pardo e cinzento.

(Mira - Fotografia de Bigorna)
 

E nós, calados… vamos morrendo,

no vale do nada, sem o sabermos,

caindo sempre no oco horrendo,

de saber passado a vez de havermos.

 

O céu escurece, mudo de tudo,

silenciando a confiança….

Sob o gigante, medonho e barbudo, da alta finança,

os monstros roubam toda a verdade.

 

Pululam lesmas gordas de cobiça e roliça vaidade.

Ditam leis embuçadas, leis filhas da pútrida caridade…

Que nos ficam, na garganta, entaladas.

As sanguessugas comandam toda a dança

e apregoam razões sem espada, sem norma e sem balança.

                        Poesia de Bigorna

quarta-feira, 16 de novembro de 2022


 

Tenesmo, manifestações e poluições politizadas.

Sim.

Fim dos combustíveis fósseis já, sobretudo para os nossos filhos que transportámos à escola, pela manhã, no carro confortável, quentinho e movido a petróleo, e agora fazem greve às aulas como se esperassem que o conhecimento lhes vá entrar, pela luz do sol, nas fontanelas calcificadas pelas séries televisivas com as quais não sentem medo de serem poluídos. Não passam de arautos do comodismo. E exigem.

(fotografia de Bigorna)

Vão estudar, já! Deixem-se de exigências e birras de crianças mimadas. Não se exige o fim do petróleo como se do prato de batatas fritas com ovo estrelado e salsicha, ao jantar, se tratasse. Primeiro estuda-se e depois faz-se. Os vossos avós estudaram o uso do petróleo para que tivéssemos muito do que temos hoje. Nós trabalhamos como escravos para que os “aborrecentes”, que vocês são, tenham a abundância que nem sabem que têm. Agora percebemos que os caminhos foram errados, o do petróleo e o da vossa abundância: - não olvidem, nós sabemos e nós queremos o fim disso. Não é vosso apanágio ter pressa. E suas excelências, arvorados em estudantes que fizeram greve, desde sempre, a leituras e culturas, exigem, com o dedo esticado, convencidos de que têm algures uma varinha de condão. Mas fazer? Népias!

Ainda por cima deixam-se atropelar por politizações, pequeninas, sobre o assunto, e vêm pedir demissões. Demitam o tirano que vive dentro de vós e vos polui mais do que os hidrocarbonetos e depois venham a terreiro, pensar e trabalhar.

Por vezes fica a ideia de que todos leram a Alice no País das Maravilhas. E isso não seria, de todo mau, porque muitos nem isso: - só resumos para os exames. O pior é que a maioria de vós parece não ter saído de lá, de dentro do livro, e apenas se travestiram de Rainha de Copas, não conseguindo deixar de cuspir hormonas de fel e de mau feitio.

A vossa pesporrência gasta mais energia que o meu carro velho. E o meu carro velho deixa de ser necessário porque os meninos modernos resolvem tudo pela net, comem emojis, regurgitam anglicismos e cagam postas de pescada de nariz empinado

Sim.

Fim dos combustíveis fósseis, já!

Amanhã vão “à pata” para a escola. Não, nada de trotinetes eléctricas… Quando muito vão de bicicleta a pedal que, justamente, é um veículo de tracção animal sui generis (em que a besta tracciona o veículo e permanece sentada).

Estes seres arrogantes, que protegemos como cacos de plástico de fraca qualidade, exigem tudo da mesma forma, displicente, como encomendam pizzas pelo smartphone (que lhe oferecemos por terem apenas cumprido os seus deveres – Estudar…), enquanto esparramam o traseiro no sofá quentinho da sala de estar. E devem pensar (se é que ainda usam o cérebro para algo para além de papel higiénico), que os entregadores de pizza são o soldado Fidípedes e correm a maratona para satisfazer os seus apetites gulosos de pequenos tiranos. Coitadinhos…

Fim ao combustível da arrogância, da impertinência e da protecção exagerada a estes pirralhos! De que merda julgam eles que são feitos as dezenas de “ténis”, último modelo, que usam nos pés mimados?

Fim aos combustíveis fósseis. Já! E aproveitem, quando voltarem para casa, depois da greve e do forrobodó, venham a pé descalços e pelo caminho das pedras que a estrada é de asfalto.

Sim. Nós, educadores, somos culpados. Andamos a fechar as portadas das janelas da nossa existência, e a varrer as imbecilidades que os pelegos defecam pelo chão que pisam, com medo que a realidade da rua da frente os traumatize. E eles, sobem ao púlpito das suas inexperiências e algemam-se às paredes das escolas e das universidades (a que chamam suas, como chamam suas às casas que os pais constroem com suor e com cimento, da mesma forma de quem não tem vergonha e todo o mundo é seu).

Agora voltem a ler tudo, devagarinho, façam uma birra, atirem-se ao chão e vão estudar. Há uma caixa de supermercado à vossa espera, num país qualquer sem combustíveis fósseis, ao virar da esquina do vosso sofá da sala. Ou então, façam bullying a vós próprios e prendam a burra como vítimas mimadas.

Muitos de vós não existis, haveis sido produzidos via internet, meros hologramas, marionetas moles e viscosas. Não, não exijam que vos soltem dos fios ou vos desliguem a electricidade ou a internet pois ficaríeis por terra a vegetar como amebas. Estudem. Trabalhem. Respeitem o vosso passado, mesmo com os defeitos todos e depois façam greve ao poisio em que trazem o vosso cérebro.

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 

O Lado Limpo

 

(A fotografia é de Bigorna).
O (Cu)zinheiro pediu
  que a fonte não fosse revelada.

Na lânguida vontade de mostrar ao mundo que quem pode não come o que os pobrezinhos comem, os cozinheiros de imaginação superlativa desfazem-se em autênticos exercícios de Kamasutra para mostrar a sua excelsa criatividade. Isto ou aquilo servido em cama de aqueloutro, acompanhado de uma redução de vinho de uvas, ao infinito de o vinho voltar a ser grainha…

Citando João Sevilhano, 14 Dezembro de 2018 (https://linktoleaders.com/do-politicamente-correto-parte-1-contexto/):
“Há poucos anos tomei contacto com uma definição de “politicamente correto” que se enraizou na minha memória, a ponto de a tornar minha. Na verdade, isto significa que me esqueci da fonte e que tenho-me aproveitado para elaborar sobre o assunto. A definição é qualquer coisa como: “politicamente correto é uma teoria que sustenta a ideia de que é perfeitamente possível pegar num pedaço de merda pelo lado limpo”. Pois bem, não creio ser possível. Se é merda, é merda. Vai sujar, cheirar mal e contaminar. Por outro lado, se a virmos para lá das suas caraterísticas mais proeminentes, podemos utilizá-la como fertilizante, por exemplo. Não como um fim trágico de algo, mas como um catalisador de um início qualquer.”


Eis um prato para magnatas, de boca grande.

domingo, 13 de novembro de 2022

 A Roda


Dizem, que antes de a roda redonda ser inventada, inventaram uma roda quadrada. Mas, como dava muitos solavancos, alguém inventou uma triangular.
A Roda, que de quadrada se fez redonda, que de poucos poucos lados passou a um número infinito deles, com solavancos suaves ou imperceptíveis. (fotografia de Bigorna).
Era menos um solavanco!
Haverá progresso sem solavancos?

Pensamento ou Moinho de Vento?

 

Não sei se o moinho mói o vento,

se o vento mói o moinho.

É, pois, tanto e tão revolto o burburinho

que mais que a amargura, sobra o maduro tormento…

E, nas velas, gemendo, se desgasta o movimento,

crescendo de um sonho…. Pequenino…

Qual bichinho de conta enrolado e comezinho,

o pensamento vai enrolando o tino, em novelo,

sem destino, sem mando, sem tento.

Não sei, não entendo… Se o vento mói o moinho…

Ou se o moinho mói, porventura, o vento…

                                                                                        Bigorna, 2008


sábado, 12 de novembro de 2022

 O tempo voa...

(Fotografia de Bigorna)

AMPULHETA ALADA: significa que o tempo voa com asas de morcego durante a noite e com asas de anjo durante dia.

Podemos encontrar este símbolo em inúmeros jazigos.

Ampulheta representa o tempo que vai passando de uma maneira enumerável. 

É uma advertência aos vivos que o seu

 tempo está contado.

Conta e Tempo


Deus pede hoje estrita conta do meu tempo.
E eu vou, do meu tempo dar-Lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para ter minha conta feita a tempo
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo fazer conta,
Hoje quero fazer conta e não há tempo.

Oh! vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passa-tempo.
Cuidai, enquanto é tempo em vossa conta.

Pois aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, o não ter tempo.

Frei Antonio das Chagas (1631-1682)
 

 Avelhentar


Acer Tridente (Fotografia de Bigorna)

Um Acer Tridente, ou Liquidâmbar, no esplendor de quem se permite deixar de sintetizar clorofila. Chegou-lhe o Outono.
Outras cores, sabores e conteúdos habitam o entardecer das nossas vidas, sem que isso nos apouque...
Não é a velhice do Padre Eterno, mas é um doce avelhentar.

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Mamar é uma arte...


 Mamar é uma arte. Pode exigir audácia e até alguma perícia e acrobacias dignas de artistas de circo... Mas é absolutamente gratificante, podendo mesmo tornar-se uma dependência que poucos entendem...

(fotografia de Bigorna)
Há quem diga que existe leite de amêndoa, e de soja... Parece que a ordenha é laboriosa e o sacrifício digno da conquista de um lugar nos paraísos.

Mas os mais curiosos podem, também, fazer uma pesquisa sobre leite de frango. Vai haver surpresas e surpreendidos.



quinta-feira, 10 de novembro de 2022

 Não tem muros, o Mundo

 

Não tem muros, o Mundo

 

Na noite de 9 para 10 de Outubro de 1989, há 33 anos portanto, caia o Muro de Berlim. Pode dizer-se que essa noite já nasceu amanhecida e a escuridão desse dia não passou de um anuncio gorado. O sol alumiou todas as horas dessa noite e a brisa das harmonias dissipou as mais espessas brumas do horizonte.

Foi uma queda de pequenas porções, de pó, de areias de pedras, mas o início de uma queda com estrondo e ecos de esperança. Ainda hoje, lá longe, haverá extraterrestres a estudar o fenómeno astrológico que provocou semelhantes auroras boreais em todos os universos…

Ainda que a construção de um muro sempre tenha servido de estímulo aos construtores de escadas, para vencer a sua hipotética intransponência, a sua existência perdurará sempre  como uma sombra aos abraços da luz com as sombras.

(fotografia de Bigorna)
Foram 27 anos de angústias e sombras negras, vencidos por muitas almas que feneceram anónimas, a tentar transpo-lo, para que algo nunca anódino pudesse triunfar. A Liberdade.

E o Muro Caiu.

Resta uma réstia de desilusão. Com as suas pedras poderiam ter-se construído pontes, entre os corações, entre as ideias que se opõe, entre os olhares oblíquos que se continuam a incompreender.

O Muro Caiu, mas não caiu todo e é necessário ter presente que o mundo não nasceu com muros.

A victória continua incompleta.

 


quarta-feira, 9 de novembro de 2022

 

Tirem-me o Cobranto

 

Raios, coriscos, tornados, secas, pragas, pandemias… Todo o mal e todas as tropelias.

O mundo deve mesmo estar para acabar. Atentemos aos ditos e escritos bíblicos e aos proféticos bruxedos neles contidos. Quando as árvores derem frutos fora do tempo e outros estranhos acontecimentos advierem, estamos com os dias contados.

E quando foi que não tivemos os dias contados?

No entanto, também me apetece profetizar. Atendam:

- governantes corruptos (que nunca houve);

- violência doméstica, machismos e misoginias (tudo novidades e modernices);

- abusos sexuais (já mais vistos e ouvidos);

- jogadores de futebol que partem tudo à pancada e treinadores que lhes dão o profícuo exemplo;

- condutores de autocarros de jovens estudantes, que do interior blindado das vidraças das suas viaturas, insultam, em abastado vernáculo de cultura popular, os outros condutores, dando assim exemplo ancho da sua experiência de adultos educadores;

- filhos que aos 30 anos vivem em casa dos pais, torturados pelas ementas repetitivas das refeições dos pais e na dependência esquecida do seu coberto, cospem no prato da sopa onde comem e cagam nas suas necessidades;

 - a lua que teima, aluada de todo, em “melgar” a terra, na sua impertinência metamorfótica, umas vezes aparecendo cheia e outras em fatias

(que já não há paciência para ela e rareia em eclipses);

- Chefes de estado democraticamente eleitos que atropelam a democracia e brandam emotivas ameaças, etc, etc, etc.

E, como se não bastasse, ainda há quem se arrogue o direito de ter governos sérios. Isto é mesmo o fim do mundo. E quem de nós os educou para isso?!

                                               

Tirem-me o Cobranto! (que eu não consigo ser mais pessimista).

terça-feira, 8 de novembro de 2022

 (A)Talhar o Cobrão


Para os menos familiarizados, Cobrão é uma das denominações populares para a infecção secundária à varicela (provocada por um vírus denominado Herpes Zoster). Esta infecção pode ser também conhecida como Zona. É uma doença benigna mas com prevalência de alguns casos de complicações, em especial em idosos, com dores severas, perturbações da visão (podendo mesmo levar à cegueira), encefalopatias graves (sobretudo quando localizado na face, cabeça ou pescoço). As complicações podem ser limitadas no tempo mas podem, também, perdurar por longos períodos ou mesmo de forma permanente.

Fotografia de receita para reza (usar com fervor e esperança)

Para os maiores de 50 anos recomenda-se a vacinação (procure informação no seu serviço de saúde), a vacina contém vírus vivos atenuados e, por esse motivo, requer prescrição médica e algumas cautelas (devendo ser avaliada a competência e estado do sistema imunitário da pessoa a vacinar).

Existe medicação para diminuir a virulência da infecção e o impacto dos sintomas.

Também existem remédios do antanho…

Mas é melhor prevenir do que remédio dar.

Vacine-se!



 O Tempora, O Mores!


Enquanto fui afinar o tratamento de uma sutura cirúrgica, eis que me brinda, a sorte, com esta deliciosa peça de cultura popular, na aldeia de Ferreiros, Concelho de Anadia, Distrito de Aveiro, Portugal, terra onde se pode beber esta fina cultura e mastigar bons vinhos.

(Fotografia de Bigorna)
Num futuro, que não imagino muito distante, haverá quadros etnográficos, como este, que afagarão as nossas memórias, dizendo: Tiram-se fotocópias, digitalizam-se documentos e configuram-se computadores… E os nossos netos perguntarão (não imagino a quem), o que era isso.
Serão outros tempos e outros costumes. O tempora, o mores!





segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Identidades


(Fotografia de Bigorna)

Direita e recta seria apenas um pau, sem história, sem futuro, sem passado… com pouco interesse, com estética improvável.

As tortuosidades, o outro lado da luz, a ausência de folhas e os ramos desgrenhados, conferem-lhe um passado, uma memória, a identidade de uma árvore.
Gosto de permanecer disforme, como um Quasimodo… A disformidade que me enforma confere-me identidade, confere-me Graça. E ter Graça é ter identidade, mais do que ser giro que é apenas ser redondo.





 Anões


Na Arca, gasta pelo tempo e enevoada pelas lonjuras, das memórias da minha infância, encontro memórias dos livros onde os anões das florestas habitavam enigmáticos cogumelos.
Tropeçou o meu olhar nostálgico nos deste quadro e logo me veio à mente que, há poucos dias vi um gigante com a unha do dedo do pé grande repleta de cogumelos. Alguém lhes chamou fungos... O meu nariz fungou e, para mim, continuam a ser cogumelos.
Espanto me rebateu no fundo do poço das inquietações e logo me perguntei.
Quantos anões viverão em cada um de nós?

Gymnopilus junonius  (Fotografia de Bigorna)


Não fora a alegria de não estarmos sozinhos e tudo estaria bem. Mas, o problema é a baixa estatura moral de alguns deles... é triste.

sábado, 29 de outubro de 2022

 

Emitimos Luz

 

Inúmeras entradas no Sr. Google nos conduzem para
artigos mais ou menos científicos sobre o facto de o corpo humano emitir luz ou de, pelo menos, ter essa capacidade.

Não me detive muito sobre essas dissertações. Para mim não constituem quaisquer novidades. Até pensava e continuo a pensar que uma das nossas grandes funções, ao longo da breve peregrinação que fazemos entre a medida da humanidade (pois que o Homem continua a ser a medida de todas as coisas), seria ser luz.

Ponte do Poço de Santiago (foto de Bigorna)

Emitir Luz talvez nem seja, mesmo, exclusiva capacidade, dos humanos. Os mesmos processos bioquímicos que explicam a bioluminescência, nos humanos, são comuns a muitos outros seres vivos dos quatro cantos da taxonomia.

O que me apaga a luz dos dias e me faz as noites sombrias e solitários é o que fazemos com a nossa luz e com a luz dos outros. Como cuidamos da “conta” da luz de cada um e o que fazemos para ofuscar ou propalar essa luz, que conta damos dela, que conta vamos dar da conta de tanta falta de conta.

(foto de Bigorna)

E já nem falo de conhecimento, de cultura, de recriação, de fraternidade… Que dessa luz só os astrofísicos poderão dar conto, quando do futuro observarem a quantidade de luz da Via Lactea e disserem:

- Neste momento, a humanidade estava e emitir pouca luz… Que pena! Os Deuses haverão de fazer-nos pagar por isso.

Andava eu às voltas com este remorso, em ensejos lânguidos de jiboiar pelas estradas com a minha Deolinda e a minha Joana. Para quem não sabe, duas companheiras que nunca rangem os dentes, não se “afermentam” comigo e não rasgam as vestes da indignação por eu ter desprendido flato num dia de pouca ventosidade atmosférica. Como ia dizendo, andava eu curvando boas curvas e vendo o que de belo os meus olhos são capazes de ver como belo, quando me admirei de avistar a bela ponte centenária do Poço de Santiago. Bela. Uma peça arquitectónica sublime.

Assim a vi e assim me atirei ao rio para lhe captar o melhor sorriso possível, com ajuda da lente arguta da minha Joana (a máquina fotográfica), entre mil perigos, ainda que o Vouga, por aqueles dias fosse apenas um manso regato compassado e desmilinguido. Parecendo que não foi arriscado! Aprendi a nadar tardiamente e nunca para me atirar à agua, mas sim e só para o mero fatídico acaso de lá tombar.

Voltava eu das aguas revoltas onde me aventurei, por loucura e paixão, quando vislumbrei, na margem, um casal de meia idade, em disfarçado passeio de namorisco. Atirei o olho por cima do ombro e ainda percebi uma cotovelada dela sobre a pança dele:

- Vês, os estrangeiros (que um deles seria eu), vêm muito fotografar a nossa ponte. A nossa ponte é muito FOTOVOLTAICA! Não achas?

Ri para dentro. Devo ter rido da minha ignorância, pensava mesmo que ela queria dizer fotogénica. Até partilhei o sucedido com alguns amigos…

Mas a senhora tinha toda a razão e eu não lhe percebi o alcance. A Ponte, de tão linda que é, EMITE LUZ.

Uma ponte é sempre uma ponte. Mas uma ponte, cuja estética transforma o objecto em mais que um objecto, é uma Obra de Arte.

Enfim, uma outra forma de emitirmos luz.

                                                        Bigorna, Outubro de 2022

  Pimenta no cu dos outros… (Série)   Inspirado num poste sobre espera. A vida, se a observarmos, de todos os lados, e a conseguirmos ...