Há uma fatalidade em nós… se não matarmos, morremos. *
Há árvores que treinam a vida inteira, ano após ano, para estarem desnudas. Não adiante tentar entender tudo nas árvores nem nas árvores todas. Deixemos essa arrogância para os maus professores, aqueles que tudo sabem, tudo ensinam e nada aprendem.
Não sei se há arvores com vida eterna, mas existem, certamente, sem certeza alguma, árvores cuja existência se faz eterna.
Quando uma árvore, depois de treinar toda a sua vida para se despir, despe o seu último fato de folhas, isso revela-se um facto admirável. Essa árvore
transforma-se numa escultura que homenageia a semente que já ninguém recorda, que venera todas as árvores que consigo conviveram, nos abraços de ramos, de ventos, de cheiros, de pólenes, de sombras, de frescuras, frutos e outras farturas.
(Fotografia de Bigorna) |
transforma-se numa escultura que homenageia a semente que já ninguém recorda, que venera todas as árvores que consigo conviveram, nos abraços de ramos, de ventos, de cheiros, de pólenes, de sombras, de frescuras, frutos e outras farturas.
O sol, que outrora passou por ela e com ela fez sexo em suas folhas, excitando cada molécula de clorofila, fazendo mel e oxigénio e abelhas, num turbilhão de gemidos surdos, mas admiravelmente vastos, namora agora a sua silhueta, elevando as suas formas vetustas e perfeitas como nunca. E juntos brilham como nunca antes.
E a escultura ali se deixa ficar, como uma sombra que mostra a luz, como um silencio que revela o som, como um mistério que revela a vida.
Passam cucos, corujas, carriças e corvos. A todos, a árvore, dá um braço, a todos se propõe, ainda, ser regaço e fuste e mão que afaga. E passam vegans, empertigados em seus passos de protectores do mundo. Não comem carnes porque os animais sofrem, devoram ervas porque as não ouvem gemer, porque seus olhos cegos, seus ouvidos surdos e suas mentes indigentes, coitadas, nada querem perceber… Comam, mas é… Pedra que rima na mesma.
Há uma fatalidade na mesma fatalidade, morreremos mesmo matando.
Pelo caminho, bom dia irmã árvore, olá senhor coelho, como passou? Sua vaca.
*devo o respeito pela ideia ao Ilustríssimo Senhor Doutor Lima de Faria (de Cantanhede para o Mundo), que as árvores se curvem no seu caminho, em vénias de sabedoria.
(fotografia de Bigorna)
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