quarta-feira, 12 de julho de 2023

 Pressão vertical.

Vivo sob tensão, e não sou o único, pelo menos aqui. Há poucos dias recolhi um gatinho da rua, parecia ter tido dono, percebia-se pelo trato fino com que ronronava quando lhe anuncia
(Fotografia de Bigorna)

va a minha vontade de votar em si e na sua ida lá para a casa. Fazia comentários sobre quase tudo o que eu fazia e até sobre as pessoas que passavam pelo local onde se encontrava a atravessar o seu longo abandono, os seus dias de rua. Dizia que lia resmas de livros, chegando a ler três ao mesmo tempo, um com cada olho, e outros tantos enquanto dormia. Bufas oníricas e delírios recessos…
Este gatinho, chegado a casa, mostrou-se um dependente de atenção. Ciumento, birrento, caprichoso, quando as coisas lhe não correm de feição faz de tudo para chamar a atenção sobre si, mostra a unhas e encarrapita-se em tudo o que é púlpito, palco e tripé de microfone.
Eu, pelo contrário, sinto pressão quando a atenção sobre mim é grande, tento disfarçar, abano-me como posso e, em tempos idos até cheguei a “tintar” medidas vastas para me acalmar.
Sempre que a Atenção me pressiona sinto que a minha tensão tende a dobrar. Nunca senti a minha tensão a baixar, a baixar, mesmo quando a pressão da atenção sobre mim se revolta. Também nunca me aconteceu cair mal sobre moscatel algum. Ainda bem que me deixei de estar nas tintas para essas cenas.
Tenho medo que a pressão vertical dê comigo a ser solidário com a horizontalidade do nível térreo ou que isso me leve a tecer piadas de mau gosto, em especial sobre a suposta vontade dos que não se sentem substancialmente pressionados pelas quebras de tensão que a falta de atenção me comicha. Ficam a saber que ainda posso fanicar mais vezes (ponto final).
Bigorna (VI6023VII)
(fotografia de Bigorna)

Sem comentários:

Enviar um comentário

  Pimenta no cu dos outros… (Série)   Inspirado num poste sobre espera. A vida, se a observarmos, de todos os lados, e a conseguirmos ...