Dia do Burro
Comemora-se hoje (no oitavo dia do mês de Maio, em 2023), o
Dia Internacional do Burro.
Não sei se a comemoração é para
algum Burro em particular se para todos os burros.
Numa pesquisa, descuidada e
simples, consigo perceber que existe uma boa dúzia de espécies, mais ou menos
distintas, de Burros, sem falar da diversidade incomensurável de outros
(semi-humanos), que só assim são denominados numa tentativa ignóbil de denegrir
a reputação inefável dos verdadeiros Burros. Pela minha parte, e em nome de
todos, peço aos Burros que me perdoem.
Ser Burro deve ser um orgulho
para qualquer animal digno desse nome. Já para outras Bestas, Avantesmas e
Estafermos, o orgulho será uma opção do próprio, a expensas do mesmo e sob o
risco obvio de não ver certificada a sua admissão na casta.
Eu, aqui confesso (antes aqui que num confessionário sombrio,
escondido, bafiento e medonho, pelo perigo de “agarrar alguma doença”), não ter
descendido da parte inteligente da família. Mas não é por esse motivo que sou
Burro. Sou Burro por solidariedade com todos os que, discriminados face às suas
velocidades, performances e estereótipos de versatilidade no raciocínio, se sentem
minimizados, mas também com todos aqueles que se hipervalorizam (certamente,
pouco versados em metrologia, facilmente dão com os burros na água). Sou
solidário, sinto-me sólido, eu, os menos inteligentes e todos os burros somos
um bloco só (se preferirem, sou um calhau). Não escolhi ser lento de
pensamento, de raciocínio ou de capacidades, mas posso escolher ser digno do
que possa e consiga ser (posso fazer deste calhau uma pedra melhor). Ter
nascido imperfeito dá-me o grato impulso de trabalhar para saber mais, para
colaborar no sentido de um mundo melhor, com uma humanidade que faça do
humanismo um vento constante de respeito por todo o Universo, por todos os
Universos, e “outros versos” que não consigo, pela minha limitação, saber se
existem.
Prometo trabalhar, no sentido do
aperfeiçoamento, como um verdadeiro Burro (devo isso a uma espécie de sentença
que recebi à nascença em que se podia ler “condenado a ser Burro”). Obrigado.
A semântica é prolixa em
situações em que, por razões diversas, chamamos ou somos brindados com a
adjectivação, deliciosa, de Burro. Fulano é Burro; beltrano parece Burro;
sicrano faz-se de Burro; etc. (parêntesis feito para referir que os Burros têm,
no seu léxico, uma versão onomatopaica para esta abreviatura de conjunção “o
etc.”: simplesmente, no fim do Ioo, Iooo… o Burro diz “Brrrrrr”, querendo dizer
etc.). É notável, qual é o animal que, sem ser papagueando, é assim rico de
“Verba”. Sim, eu sou também versado na língua deles (não me escondo e só
aceitarei reconhecimento na mesma língua).
Os Burros são conhecidos por
terem alguns defeitos, entre os quais se costumam destacar, a teimosia e a
desobediência. Também há quem lhe reconheça, como principais virtudes a
capacidade de desobedecer e a teimosia. Isto Cada Burro com a sua mania.
Parece-me, sendo eu Burro, que a teimosia e a desobediência estão bem para
qualquer um. Eu, por exemplo, teimo em desobedecer e não me arrependo. Mas
talvez eu seja demasiado Burro para perceber aquela “coisa” da medida certa
(talvez só alguém muito ilustrado, que possua qualidades para chegar a
Presidente ou Rei, seja bafejado com um bafo desses). E também sei mais sobre
Burros do que sobre Presidentes e sobre Reis. Os Presidentes e os Reis, esses,
nada sabem sobre Burros, o que deixa todos os Burros muito tristes. Como
consequência, os Presidentes e os Reis passam a vida a imaginar que sabem o que
os Burros pensam sobre todas as coisas e sobre todas as outras coisas, e coisas
assim. O problema é que, de quando em vez, enganam-se. Eles não sabem que os
Burros são extremamente difíceis de sondar e que as coisas são tantas, para
saber, que até há Burros que dizem que só sabem que nada sabem.
Os Burros são muito importantes,
algumas espécies estão em decadência e ainda outras em risco de extinção. Por
este motivo, se forem inteiros (não confundir com inteiramente Burros), se não
estiverem castrados, podem ter direito a subsídio para a sua criação. Não
confundir este subsídio com qualquer prestação social. O mais semelhante será o
abono de família. O que estou a falar é de subsídio para Burros inteiros e não
para inteiramente burros.
Vivam os Burros! Vivam todas as
espécies de Burros! Vivam os pouco inteligentes! e, Vivam, também, os muito inteligentes
e os só inteligentes!
Não sei exactamente o porquê, mas
mesmo agora, espreitou-me, do canto
menos iluminado da memória, uma história (e, tal como costumeiramente nas
minhas “escritisses”, provavelmente nenhum nexo haverá, entre esta história e os
Burros das comemorações de hoje). Mas lá vai:
Contaram-me, e vou omitir o nome
verdadeiro dos protagonistas por respeito e precaução a qualquer desvio da
verdade verdadeira ou a efeitos ofensivos colaterais. Contaram-me que, numa
Actual Cidade (que era então Vila e onde habitavam vilões e agora habitam Cidadões),
havia um homem que tinha uma taberna. Dizem que era famoso pelo seu bom humor,
pelas sandes fartas que servia na taberna e pela generosidade que manifestava
com os cães vadios que alimentava sem pudores ou interesses interesseiros. Era frequente
vislumbra-lo com uma matilha destes animais no seu encalço, com os canitos na
expectativa de uma côdea jogada ao chão (não eram Burros), eram sempre cães
pobres e vadios.
Conta-se, também, que um dia, |
Desenho de Bigorna que não sabe desenhar Burros |
atravessando ele a ponte sobre o rio da dita Vila, um polícia seguia, também,
no seu rasto, fazendo uso do seu apito, de forma persistente, em alto volume estrepitoso
(prriiii, prriiii, etc. “etc., desta vez, em forma de prrriiii e não de Brrrrr”).
Como o Pobre homem não desse acordo de se imobilizar ou dar qualquer
importância ao “insigne ficante” polícia, o agente (e a gente sabe como eles
são afincados e determinados nos seus propósitos quando querem arrebitar o
apito), correu e interpelou, o transeunte, de forma directa e em “verba lusa”
(foi uma gaita!):
- Então, o senhor não para, não
obedece à autoridade?
Ao que o Homem lhe respondeu:
- Eu não ando por apitos senhor
“polício” (querendo dizer que não obedecia a apitos ou, certamente que apitos
daqueles não chegavam aos céus)!
- Olhe! – vociferou o polícia –
Mostre-me cá as licenças dos cães e deixe-se de brincadeiras! (certamente com
bons modos de polícia, como era costumeiro o uso, por parte destes, e ainda
mais no tempo do “respeito” – que a história ter-se-á passado andes de 1974 e
assim ficamos sem qualquer dúvida).
O Homem respondeu-lhe:
- Olhe, senhor “polício”, estes
cães não são meus.
- Mas vão atrás de si, por isso
são seus!
- Pois.. veja lá bem o senhor
“polício”. O senhor também vem atrás de mim… E não é meu, pois não?
Moral da história: Vivam os cães
vadios! VIVAM!
Pensamento do Dia: Vai que um “rebanho”
de moscas resolve seguir um polícia ou “apoisa em cima dele”?
Provérbio: Esta minha tentativa
de escrever algo de jeito e sem ferir a língua (não a minha mas a Nossa), é
como lavar as trombas a um Burro preto. É perder tempo, gastar água e estragar
sabão (e ainda irrito algum Burro com isto!).*
* Fica um sincero pedido
de desculpas pelos eventuais erros ortográficos (posso evocar dislexia?, posso?).
E não ficarei mais Burro se me corrigirem. Obrigado.