Não Há Palavras
Uma
folha branca é um poema inacabado.
Cabe,
nela, inteira e sem flores, toda a minha e a tua infância.
Letra
a letra, em caligrafia de escola primária,
como
quem tange a música de um fado.
(Fotografia de Bigorna) |
descrevem-se
as saudades, os pores-do-sol… a dor da distância.
Em uma
e outra e outra linha,
desenha-se,
a sangue, escorrido, cada joelho esfolado...
Há,
também, lágrimas, para esborratar a tinta.
Uma
folha branca é um poema, inacabado,
e o
borrão é o que melhor o pinta,
é a
melhor imagem do certo e do errado,
é a
marca indelével e distinta de um lápis magoado.
E que
palavras doridas pode, um lápis de bico sofrido, gemer...
Numa
página em branco podem escrever-se mil cacos de um coração partido,
de uma
infância parida por cesariana,
de uma
barriga qualquer...
Numa
Família Cigana…
Sem
brilho e sem vontade,
podemos
usar todas as palavras que saibamos escrever,
repeti-las
e reinventá-las, abusar delas, riscá-las e grifá-las e,
antes
de as escrever apalpá-las…
que,
ainda assim, ficará, sempre, sempre, sempre, tudo por dizer...
(Bigorna)
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