(Fotografia de Bigorna) |
O alvorecer é volátil, tal qual em nós o é a juventude. Esfuma-se por entre as montanhas, escorre na voragem dos vales agudos dos rios que os nossos olhos vão lacrimando.
Choramos, plácidos de melancolia, e o sol, solidário e sólido com a saudade que transportamos aos ombros, vai se escondendo sob a neblina do sublime vapor das nossas lágrimas.
Foi assim que neste entardecer de Domingo, enquanto foguetes estalavam no ar, anunciando fim de procissões com o pobre S. João (secundado pelo primo e degolado em nome das escrituras), e ao mesmo tempo pedindo bailaricos e sardinhas assadas, caminhei na senda do entardecer do dia e do meu próprio avelhentar.
Curvando-se, num horizonte alaranjado, como se carregasse, nas costas, todos os pecados existentes, condenado por todos os deuses inventados, o sol foi caminhando. Corcovado, lá se foi escondendo no horizonte, sempre dizendo até amanhã, ao mesmo tempo que beijava e alvorava outras tantas vidas. Vidas que ao alvorecer iniciavam ali, acto contínuo e sem remédio, um entardecimento de vapor irreparável e inequívoca nostalgia.
Antes de se esconder, atrás da última onda do mar, beijou o céu todo e segredou-me que amanhã regressaria para banhar com lã doirada todos os nossos sonhos cinzentos.
Boa noite.
(Fotografia de Bigorna)
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