Não, este não é o país que temos!
Confesso-me angustiado, zangado, preocupado (embora isso não importe quase nada).
Os professores, alguns professores (a notícia dizia que era uma manifestação de professores), decidiram manifestar-se, aproveitando a presença do Primeiro Ministro, empunhando cartazes onde este aparece com “focinho de porco”
Pensei na minha filha que passou, há poucos anos, pelos bancos da escola.
Pensei nos pais dos alunos todos.
Pensei nos pais daqueles professores e nos pais de outros professores e nos pais dos pais deles.
Pensei nos sindicalistas.
Pensei no Primeiro Ministro.
Pensei naquilo que vulgarmente denominamos “educar pelo exemplo”.
De imediato me veio há memória um pequeno artigo que escrevi há cerca de 15 anos. Não encontro o texto mas lembro-me que versava sobre os noticiários, que na altura mostravam a indignação de alguns pais de alunos. As notícias apoucavam os professores, tomando a vinha pela videira (como é costume). Aos professores eram atribuídos os piores defeitos, sem o mínimo escrúpulo, sem qualquer respeito, nem pelos bons nem pelos menos bons. Nas reportagens era dada a palavra a vários pais que destratavam professores, as mães deles, os avós e até o padre que os tinha baptizado. Pais indignados falavam de incompetência, ignorância e outros mimos, sobre os professores.
Lembro-me de me sentir tocado pela forma como os professores eram tratados.
Lembro-me de terminar o artigo com um pequeno diálogo entre filho e pai (depois de assistirem ao noticiário).
Filho: - Então e agora pai?
Pai: - Agora filho, agora está na hora de ires para a cama, que amanhã vais para a escola.
Passaram 15 anos sobre este artigo que escrevi. Amanhã é Domingo e ninguém vai para a escola. Mas, amanhã, as televisões vão repetir, até à náusea, estas imagens.
Hoje lembro-me da forma como os professores eram e são tratados.
Hoje vejo professores com cartazes destes em punho.
Talvez algum pai e algum filho conversem sobre isto. No dia seguinte será dia de ir para a escola.
Espero que os alunos de hoje sejam melhores do que estes professores e que a nenhum deles ocorra responder a nenhuma contrariedade de nenhum professor com um cartaz de “focinho de porco”.
Fico a pensar nos alunos, nos pais, nos professores, nos sindicalistas e nas notícias. E, há coisas que são um eterno retorno.
Alguns dos alunos que ouviram noticiários, há 15 anos, são hoje professores, sindicalistas, jornalistas, pais… Nós somos nós e as nossas circunstâncias.
Aqui e ali, a esmo disto ou de outros descontentamentos e de outros descontentes, vou ouvindo que há razões e que há reivindicações e que, e sobretudo que: “é o país que temos”.
Não. Este não é o país que temos. Este é apenas parte, da parte mais reles do país maravilhoso, grande, afectuoso, generoso, inteligente, trabalhador, resiliente e com história (com a história que temos e que não podemos apagar, onde se inclui a escravatura, o colonialismo, mas também a navegação, as invenções e os nossos pais, os nossos avós… que são, também, os pais e os pais dos pais dos professores que empunharam cartazes com aquela indignidade).
Viva o 10 de Junho, Viva Portugal. Vivam as pessoas tolerantes. Viva a liberdade.
Este é o país que temos, onde professores se hão de saber retratar. Onde pais haverão de saber explicar aos filhos que podem ir para a escola na Segunda-Feira.
(Bigorna)
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