sexta-feira, 16 de junho de 2023

  Lá, longe


Lá, onde o eu dos outros se funde com o eu que só eu posso abraçar e conhecer.

Seremos, sem fomes e sedes, desnudados de tudo o que nos confunde.

Nessa distância imensurável entre nós e o que ninguém de nós conhece,

(Fotografia de Bigorna)
haveremos, no futuro, erguer um templo esculpido no vazio, qual novo útero, templo dos tempos, no qual as paredes serão a Verdadeira Luz e onde seremos, apenas, o nosso próprio interlúdio.

AÍ, transparentes ao olhar mortal, da cor da lucidez da alvorada, poderemos ver-nos, transmutarmo-nos ao som da criação dos universos.

Seremos mais do que qualquer um de nós e os nossos imperfeitos olhares saberão ver. Seremos nós e os nossos próprios mundos inversos.

Lá, longe, onde todo o eu perdido pode enlaçar-se com os horizontes dos meus próprios limites, poderemos saber, de nós, o que só eu vejo de mim, o que tu podes ver de nós, o que jamais saberíamos sermos.

Lá, longe, na distância do tempo, onde jamais estaremos sós e assim morrermos, seremos a nossa essência, sem matéria e sem defeitos.



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