sexta-feira, 2 de junho de 2023

 As mulheres de vida fácil…


Ontem foi dia da criança.
Hoje é dia Internacional das Prostitutas.
Quando eramos crianças, todos nos perguntavam o que queríamos ser quando fossemos grandes. Bombeiro; polícia; médico, professor… e um sopro suave envolvia-nos, qual mélica neblina matinal feita de algodão doce e de esperança, até onde oníricos regaços nos conseguissem transportar. Contudo, a memória não me convoca para algum episódio em que uma criança desejasse ser Prostituta.
Só o Jaquim dizia: - A minha tia é substituta. – Sendo que a professora o corrigia: “prostituta, será isso?”
- Não, senhora professora, prostituta é a minha tia, mas ficou doente…
Contudo, ou porque o destino é pérfido ou porque os deuses (se existirem), são eternos brincalhões, sem estatísticas que o comprovem, sem lista de nomes e sem nome no rol de profissões, cá nos vamos prostituindo. Somos mais dos que os números contam.
Sejamos frontais. As beatas que cessem a leitura, os escandalizados que rezem mil terços e os mais pios que evoquem Santa Maria Madalena numa ladainha imensa em que podem também chamar políticos, juízes, padres, bispos e outros que a imaginação não tolha. A prostituição sexual é só a cova, a cloaca mais funda e escondida onde procuramos (com o rabo de fora que é, aqui, um paradoxo tortuoso), esconder um rol de trocas de serviços e conveniências. As outras prostituições não são filhas de “um deus maior”.
O casamento é, ele próprio (volto a esclarecer, todos os leitores são livres de pôr os “cotos” fora desta pauta, parar de ler, e e rasgar o texto em farrapos de protesto), um covil negro de prostituições. Favores sexuais, favores de higiene da casa e arrumações várias, favores afectivos e efectivos, cá vamos cantando e rindo, disfarçando o mau estar e a falsa virgindade púdica.
Homens que se casam para não irem às “putas” (porque, supostamente, fica mais barato), mulheres que se casam para valorizarem os seus produtos e as suas habilidades de cuidadoras do lar… Os móbiles mudam, mas a génese da troca, da retribuição e do negócio é o mesmo (volto a repetir, a leitura é livre, gratuita e, a qualquer momento basta carregar no botão e há uma paragem imediata para os passageiros saírem, até mesmo em andamento). Há casos diferentes? Há? Optimo.
Profissionais de todas as áreas, desde as mais braçais às mais cerebrais, tudo é uma troca. Atribuir mais valor a genitais do que a mãos ou a cérebros, fica com cada um.
(Desenho, miserável, de Bigorna)
Desvalorizar, maltratar, ironizar, apoucar ou cuspir no desejo, no afecto e no prazer é uma forma de escravatura tão reles como qualquer outra. Vivam as prostitutas e os prostitutos. Viva a dignificação da virtude intelectual e humana. Viva a honestidade do pensamento.
A vida fácil é uma parangona que só sossega cérebros pouco esclarecidos. Não raro é uma expressão usada por homens e mulheres, esposas apudoradas, que negam por amor, ao marido, aquilo que eles vão comprar, na porta ao lado, por dinheiro. Lembro-me da mulher do Jaquim, da minha terra, dizer: - Eu sei que o meu Jaquim vai aquelas mulheres de vida fácil. Eu é que não estou para lhe dar sexo porque para mim é um sacrifício.

Mas, para as outras, é fácil...

Bigorna (II6023VI)



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